O TEATRO DE NELSON RODRIGUES NO CINEMA E NA TV: ADAPTAÇÕES DE QUATRO PEÇAS DO DRAMATURGO PARA AS TELAS

 

Bianca Carvalho Morais (SP3031438)

 

Nelson Falcão Rodrigues (1912-1980) - jornalista, autor de crônicas, contos, romances e peças teatrais - é considerado o maior dramaturgo do Brasil e o que tem mais montagens de suas obras. Nelson Rodrigues é também um dos responsáveis pela inauguração e consolidação da moderna dramaturgia brasileira e, ainda nos dias atuais, um dos escritores brasileiros que mais tiveram obras transpostas para as telas, em adaptações cinematográficas e televisivas que atravessam décadas e movimentos. Levando em consideração o legado do autor e a amplitude de seu teatro, selecionamos, de dezessete peças que compõem seu repertório, quatro grandes produções que foram transpostas para a linguagem visual do cinema ou da televisão: Vestido de noiva, A falecida, O beijo no asfalto e Boca de Ouro.

 

1.          VESTIDO DE NOIVA

 

Vestido de noiva foi a segunda peça de Nelson Rodrigues e seu primeiro grande sucesso de público. Encenada pela primeira vez em 1943, com a direção de Ziembinski, a obra introduziu o modernismo no teatro brasileiro. A peça se articula em três planos cênicos – o da alucinação, o da memória e o da realidade -, e mostra a história de Alaíde, que, enquanto se recupera em um hospital após ser atropelada, reconstitui cenas de seu passado, relacionado à irmã Lúcia e ao namorado Pedro, e é transportada, no plano da alucinação, ao bordel de Madame Clessi, a qual resgata algumas lembranças de suas aventuras. A obra, que une fatos do presente e do passado a fantasias do subconsciente de Alaíde, foi levada duas vezes à televisão e uma vez às telas de cinema:

·                    Vestido de Noiva (1974): dirigida por Antunes Filho, a primeira adaptação de Vestido de noiva para as telinhas foi exibida no programa Teatro 2, da TV Cultura, e tornou-se um clássico. A versão, considerada um marco no formato do teleteatro brasileiro, foi estrelada por Lilian Lemmertz (Alaíde), Edwin Luisi (Pedro), Célia Olga (Lúcia) e Nathalia Thimberg (Madame Clessi).

 

·                    Vestido de Noiva (1979): esta adaptação marcou a estreia do programa de teleteatro Aplauso na TV Globo. A produção foi bastante elaborada e contou com um elenco de sucesso, como Suzana Vieira (Alaíde), Othon Bastos (Pedro) Joana Fomm (Lúcia) e Tônia Carrero (Madame Clessi). A direção foi de Paulo José.

 

·                    Vestido de Noiva (2006): a única adaptação cinematográfica da célebre peça de Nelson Rodrigues foi dirigida pelo próprio filho do autor, Joffre Rodrigues, em sua estreia como cineasta. Simone Spoladore (Alaíde), Marcos Winter (Pedro), Letícia Sabatella (Lúcia) e Marília Pêra (Madame Clessi) fizeram parte do elenco.

 

2.      A FALECIDA

 

Escrita em 1953, A falecida, oitava peça de Nelson Rodrigues, é ambientada na zona norte carioca dos anos 1950 e apresenta a história de uma mulher de classe média baixa, a tuberculosa Zulmira, a qual acredita estar perto da morte e, a partir disso, passa a planejar os detalhes de seu próprio enterro. A fim de provocar inveja na prima Glorinha, em seu leito de morte Zulmira pede a Tuninho, seu esposo, um enterro luxuoso e o direciona a procurar Pimentel, para pagar seu funeral. Entretanto, os planos da falecida não se concretizam da forma como ela esperava. A obra ganhou uma adaptação fílmica de grande importância para o cinema nacional:

·                    A falecida (1965): a adaptação, levada às telas de cinema pelo diretor Leon Hirszman, foi protagonizada por Fernanda Montenegro (Zulmira), em seu primeiro papel no cinema, e por Ivan Cândido (Tuninho). A produção fez parte do movimento cinematográfico denominado Cinema Novo e foi eleita como um dos 100 melhores filmes brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (DIB, 2015).

 

3.      O BEIJO NO ASFALTO

 

O beijo no asfalto, escrita em 1960, acompanha o drama de Arandir, bancário casado com Selminha, que, estando um dia na rua com seu sogro Aprígio, vê um homem sendo atropelado e, ao tentar socorrê-lo, atende ao último pedido do moribundo: um beijo na boca. O episódio ganha grande repercussão na mídia graças a Amado Ribeiro, um jornalista que presencia a cena e resolve tirar proveito da situação. Diante do escândalo provocado e da descrença de todos que o rodeiam, Arandir vê seu relacionamento com a esposa, sogro e cunhada passar por grandes transformações. A décima terceira peça de Rodrigues recebeu três adaptações para o cinema:

·                    O Beijo (1964): esta foi a primeira adaptação da obra para as telas de cinema, além de ter sido o primeiro longa-metragem dirigido por Flávio Tambellini. O filme, que dialoga com o expressionismo no tratamento visual, foi protagonizado por Reginaldo Farias.

 

·                    O Beijo no Asfalto (1980): sob direção de Bruno Barreto, a segunda versão cinematográfica da peça homônima teve os diálogos adaptados pelo próprio Nelson Rodrigues. A produção, de cunho naturalista, atualizou a trama para a década de 1980, ao incluir alguns elementos novos no conteúdo da intriga, como a TV. O elenco foi composto por atores renomados, como Ney Latorraca (Arandir).

 

·                    O Beijo no Asfalto (2017): a mais recente adaptação de O beijo no asfalto para as telonas é também a estreia de Murilo Benício como diretor de cinema. Com Lázaro Ramos no papel de Arandir, entre outros atores aclamados, o filme se desenvolve de modo não convencional, mesclando leituras de roteiro com encenações.

 

 

4.      BOCA DE OURO

 

Publicado em 1959, o texto teatral Boca de Ouro configura-se como a décima segunda peça do autor e apresenta a história do temido bicheiro conhecido como “Boca de Ouro”. Logo no início do primeiro ato, a personagem é tida como morta e seu passado torna a ser vasculhado pelo jornalista Caveirinha, designado para entrevistar Dona Guigui, ex-amante de Boca. Conforme seu estado emocional, a mulher revela diferentes versões da história do bicheiro. Mas, apesar de conflitantes, todas elas aproximam-se em um ponto: envolvem um conflito estabelecido entre Boca de Ouro e o casal Celeste e Leleco. A peça recebeu três versões cinematográficas:

·                    Boca de Ouro (1962): a primeira adaptação de uma peça teatral de Nelson Rodrigues para as telas foi dirigida por Nelson Pereira e tornou-se um clássico do cinema nacional. O filme foi estrelado por Jece Valadão, no papel do bicheiro, e Odete Lara, como intérprete de Dona Guigui.

 

·                    Boca de Ouro (1990): nesta adaptação cinematográfica, com direção de Walter Avancini, Tarcísio Meira atuou no papel principal, enquanto Cláudia Raia interpretou Dona Guigui A segunda versão fílmica da obra atualizou a história para os anos 1990 e transportou a trama do lugar da contravenção para o ambiente da criminalidade, em que Boca de Ouro é um traficante de drogas, não mais um bicheiro, como é retratado na obra original.

 

 

·                    Boca de Ouro (2020): Dirigida por Daniel Filho, que esteve no elenco da primeira filmagem da obra, em 1963, a mais nova versão de Boca de Ouro para o cinema foi lançada em novembro. O longa-metragem conta com um elenco de peso, com Marcos Palmeira no papel-título e Malu Mader no papel de Dona Guigui.

 

 

REFERÊNCIA­

DIB, André. Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros. Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, 2015. Disponível em: < https://abraccine.org/2015/11/27/abraccine-organiza-ranking-dos-100-melhores-filmes-brasileiros/ >. Acesso em: 14 dez. 2020.

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