PROPOSTA DE ATIVIDADE: TRABALHANDO A ENTONAÇÃO DA VOZ A PARTIR DA ELABORAÇÃO DE RUBRICAS


Bianca Carvalho Morais (SP3031438)


PROPOSTA DE ATIVIDADE

Trabalhando a entoação da voz a partir da elaboração de rubricas.

TEXTO UTILIZADO

A Almôndega*

MATERIAIS NECESSÁRIOS

Texto.

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

A atividade propõe exercitar os usos da entoação e das rubricas no texto teatral, a fim de levar os alunos a compreenderem a importância desses elementos no teatro. Para isso, o professor poderá entregar aos alunos o texto A Almôndega e, em seguida, propor a divisão da turma em grupos para a elaboração de pequenas rubricas, que deverão indicar ações, expressões e, sobretudo, o modo de falar das personagens no texto.

Os alunos poderão explorar os diferentes sentidos que o diálogo pode transmitir a depender das indicações cênicas, das pontuações e da forma como o texto é lido.  Para isso, num primeiro momento, eles deverão preencher os espaços do texto, colocados previamente pelo professor, com as indicações cênicas que acharem necessárias, podendo também alterar pontuações nas frases.

Ao finalizarem essa etapa do exercício, os grupos realizarão, então, a leitura dramática do texto para o restante da classe, procurando explorar os recursos de entoação da voz determinados pelas rubricas elaboradas anteriormente. Nesse momento, é válido o professor ressaltar a importância do trabalho expressivo com a voz nas práticas teatrais.

Antes da aplicação da atividade, é necessário que os alunos já tenham estudado o gênero dramático, bem como a função das rubricas no texto teatral. O exercício poderá ser aplicado em duas aulas, destinadas à leitura inicial do texto, à organização dos grupos, à criação de rubricas e, por fim, à leitura dramática.

JUSTIFICATIVA

Esta atividade procura promover a prática da leitura através da ludicidade e colaborar com o desenvolvimento das capacidades dramáticas de expressão da voz dos alunos. Busca, também, proporcionar o exercício de criatividade a partir da elaboração

de rubricas para o diálogo, assim como o entendimento das funções desse elemento e de sua importância para a construção da entoação adequada em um texto teatral.

Com isso, espera-se contribuir para o desenvolvimento da expressão, da

desinibição, da criatividade e da sociabilidade dos alunos.

 

*A Almôndega consiste em um esquete teatral inspirado na obra de Dino Buzzati, escritor italiano considerado expoente do Teatro do Absurdo. O texto foi disponibilizado pela companhia de teatro O Tablado e recebeu algumas alterações e o acréscimo de parênteses para a realização do exercício proposto. O esquete original está disponível em: http://otablado.com.br/Cadernos?page=13   

 

A ALMÔNDEGA

O ambiente retrata um escritório de um intelectual. Mais precisamente um professor de sociologia. Adentra o palco um homem de meia idade, que tem um ar de angústia típica daqueles “que pensam demais”. Entra, procura alguns livros, acha o que procura. Senta-se à escrivaninha, procura umas anotações e repentinamente se depara com um pacotinho embrulhado sobre os papéis. Olha desconfiadamente o pacotinho e finalmente o abre. Ao abrir, surpreende-se ao constatar que dentro do pacotinho tem uma deliciosa almôndega, artisticamente preparada. 

 

PROFESSOR (                                ) – Uma almôndega. (pausa) Uma almôndega? (pausa) Sem dúvida, uma almôndega. Mas o que faria uma almôndega no meu escritório? Ou melhor quem deixou embrulhado num pacotinho azul esta almôndega? (                                   ) Lúcia! Lúcia! 

LÚCIA (                                       ) – O que foi querido?

PROFESSOR (                                   ) – Foi você que deixou um pequeno embrulho em cima da minha mesa?

LÚCIA – Não, querido. (                                  ) Que embrulho?

PROFESSOR – Um embrulhinho assim oh, deste tamanho. (faz gesto) Tem uma almôndega dentro dele. 

LÚCIA – Meu bem, pelo amor de Deus, não me faça rir. (rindo) Pelo menos é seu prato predileto, portanto das duas uma, ou você come por que está com fome, ou você come por que, independente da fome, é seu prato predileto. (                                  ) Almôndega, pacotinho... veja você. Almôndega. Almôndega! (Sai rindo) 

Professor inquieto, sem entender, fita a almôndega com muita curiosidade. Cheira-a.

Principalmente contempla-a como a um troféu que não sabe se é seu ou não. 

PROFESSOR (                                    ) – Marco! Marco! 

MARCO – Sim, pai.

PROFESSOR – Foi você que deixou um pacotinho aqui na minha escrivaninha? 

MARCO – (                                   ) Pelo amor de Deus, pai. Desde a última intervenção eu não ando com nenhum pacotinho suspeito. Palavra de filho!

PROFESSOR – Eu sei, eu sei, não é disso que estou falando. Falo de um outro tipo de pacotinho. Um pacote com uma almôndega dentro.

MARCO – Almôndegas? (                                 ) Aí mãe, papai tá delirando. Tá vendo almôndegas na escrivaninha. Essa é boa... 

O professor torna a fitar a almôndega com mais interesse ainda. Fita-a incessantemente. 

PROFESSOR (chamando) – Maria! Maria! 

MARIA (                                ) – Pois não, doutor. 

PROFESSOR – Por acaso você andou preparando almôndegas para o jantar hoje?

MARIA – Não, doutor. Mas se o senhor quiser posso descer no açougue e comprar carne para preparar... 

PROFESSOR – Não é preciso. (                               ). Você viu alguém entrando e deixando um embrulho, assim pequeno, aqui no meu escritório? 

MARIA – Não, doutor. 

PROFESSOR – (                                ) Tudo bem, pode sair. 

Maria sai. O professor investiga ainda mais a almôndega. 

PROFESSOR – Eduardo! Eduardo! 

EDUARDO (entrando) – Sim, tio.

PROFESSOR (                                 ) – Qual o seu prato predileto 

EDUARDO – Macarronada 

PROFESSOR – Grande pedida. E o que me diz de almôndegas? 

EDUARDO – (                                 ) Almôndegas? Adoro. Um dos favoritos. Para mim só perde de uma lasanha. Mas que aspecto, que cor tio, que cor. Se me deixassem eu seria capaz de comer almôndegas dia e noite. Almôndegas no café, almôndegas no almoço, almôndegas no lanche, almôndegas no jantar e de sobremesa, almôndegas açucaradas. Que cor, que estilo, que consistência... (vai saindo)

Professor cada vez mais intrigado, admira a saborosa almôndega. De tanto fitá-la, acaba adormecendo. Ruídos na porta. Lúcia, Maria, Marcos e Eduardo olhando pela fechadura. Os ruídos despertam o professor, mas este disfarça como se continuasse a dormir ouvindo.

LÚCIA – Não, não era perfeita, melhor não podia ser. 

MARIA – Esse nojento, é um guloso, não vai resistir 

EDUARDO – Você viu ontem à noite como comia? Que asco. (                                  ) O barulho que faz quando mastiga simplesmente me deixa louco. 

MARCO – E os peidos? Mais fedorentos que ovo podre. 

LÚCIA – (                                 ) Acho que a hora não foi própria, deveríamos ter esperado mais. 

MARCO – Que nada, mãe, vai funcionar otimamente. Assim que acordar, o porco nojento vai comer. Isso ai é mais esfomeado que os flagelados de Biafra.

EDUARDO – Tem certeza que funciona? 

MARIA  (                              ) Vamos patrãozinho, acorde e engula. Vai, seu fedorento... 

LÚCIA – (                                 ) Morra! Desgraçado! Quando come faz expressões com o rosto que me dão náuseas. 

MARCO – Vamos papaizinho, acorda e come! 

LÚCIA – Morra! 

Os quatro começam a rir. O professor a tudo escuta fingindo dormir. 

EDUARDO – Vamos lá gente, energia positiva (Fazem uma mentalização e um deles começa puxar um pequeno corinho! “Come! Morra!” Depois de algum tempo cessam e vão embora, gargalhando risadinhas infantis.) 

PROFESSOR – (                             ) – Não precisam mais de mim, não é verdade? Estão seguros de si mesmo? A juventude é bela, não? São fortes, enérgicos, não têm dúvidas. Compreendi. Uma existência inteira se deparando com uma almôndega (                               ). Meu Deus, uma linda e apetitosa almôndega. Que ironia da vida. Uma almôndega, uma simples e inocente almôndega. (                                          ) Hum... É boa, muito boa... Deliciosa... Não poderia ser melhor... Que almôndega!

 

 

REFERÊNCIA

KOSOVSKY, Ricardo. Sketches –  Dino Buzzati. Cadernos de teatro. Rio de Janeiro, [S.I], n. 122, p. 34-35, julho-setembro de 1989. Disponível em:

<http://otablado.com.br/Cadernos?page=13>. Acesso: 13 out. 2020.

 

 

 


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