ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS
Segundo a gramática tradicional,
as orações subordinadas adverbiais são aquelas que exercem função de adjunto
adverbial da oração principal.
As orações adverbiais vêm,
normalmente, introduzidas pelas conjunções subordinativas adverbiais e, a
depender de qual conjunção ou locução conjuntiva que as introduzem, são
classificadas em:
Causais – As orações subordinadas
adverbiais causais expressam a causa, o motivo da declaração exposta na oração
principal.
Saiu cedo porque precisou ir à
cidade. O motivo, a causa de ter saído cedo foi ter
precisado ir à cidade.
Como está chovendo, transferiremos o
passeio. Oração subordinada adverbial causal deslocada, por isso
marcada por vírgula, que expressa a causa de se ter que transferir o passeio.
“Está chovendo e por esse motivo transferirão o passeio”.
Não veste com luxo porque o tio não é rico.
(Machado de Assis, OC, II, 204.)
Conjunções subordinativas
causais: que
(=porque), visto que, visto como, já que, uma vez que (com o verbo no
indicativo), desde que (com o verbo no indicativo).
Concessivas – As orações subordinadas
adverbiais concessivas estabelecem uma quebra de expectativa, uma contradição
ao exposto na oração principal.
Embora chova, sairei. Pelo fato de
estar chovendo era esperado que não saísse. A oração subordinada adverbial
concessiva “embora chova” estabelece, portanto, uma quebra de expectativa ao
que era esperado. “A chuva não será obstáculo tal, que me impedirá de sair”.
Ainda que não dessem dinheiro, poderiam colaborar com um ou
outro trabalho.
(O. Lara Resende, BD, 134.)
Nem que venham contra mim o sol e a lua, não recuarei das minhas
ideias.
(Machado de Assis, BC, 355.)
Conjunções subordinativas
concessivas: ainda que, embora, posto que, se
bem que, conquanto, mesmo que, nem que etc.
Condicionais (e
hipotéticas) – As orações subordinadas
adverbiais condicionais estabelecem uma condição para que se realize ou não o
que se declara na oração principal.
Se eu estudar, obterei o prêmio. A
condição para a realização do fato declarado na oração principal “obter o
prêmio” é estudar.
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena. (F. Pessoa, OP, 19.)
Eles não dormem, sem que primeiro a mãe lhes
cante a berceuse de Jocelyn. (É. Veríssimo, A, 1,83.)
Conjunções subordinativas
condicionais: se,
caso, sem que, uma vez que (com o verbo no subjuntivo), desde que (com o verbo
no subjuntivo), dado que, contanto que etc.
Finais – As orações subordinadas
adverbiais finais expressam a finalidade, a intenção, o objetivo do que se
declara na oração principal.
Saíram para que pudessem ver o
incêndio. A finalidade, a intenção de terem saído foi a de ver
o incêndio.
Trabalhou porque fosse
promovido. Trabalhou com a finalidade, o objetivo de ser
promovido.
Reclamou a fim de que o nomeassem.
Fiz-lhe sinal que se calasse.
(Machado de Assis, OC, 1,525.)
Conjunções subordinativas finais: para que, a fim de que, que
(para que), porque (para que).
Temporais – As orações subordinadas
adverbiais temporais exprimem uma circunstância de tempo ao que é declarado na
oração principal.
Logo que saíram, o ambiente
melhorou. Quando o ambiente
melhorou? Logo que saíram.
Renovaram a fogueira até que chegasse a luz da
manhã.
(Adonias Filho, LBB, 111.)
Quando disse isso, ninguém acreditou.
Conjunções subordinativas temporais: antes que, primeiro que, depois
que, quando, logo que, tanto que, assim que, desde que, apenas, mal,
eis que, (eis) senão quando, eis senão que, todas as vezes que, (de) cada
vez que.
Consecutivas – As orações subordinadas
adverbiais consecutivas apresentam o efeito ou a consequência do que é expresso
na oração principal
Alongou-se tanto no passeio, que
chegou tarde. A consequência de ter se alongado tanto foi chegar
tarde.
Executou a obra com tal perfeição, que foi
premiada.
Era uma voz tão grave, que metia medo.
(A. Meyer, SI, 12.)
Conjunções
subordinativas consecutivas: A conjunção consecutiva é que, que se
prende a uma expressão de natureza intensiva como tal, tanto, tão, tamanho,
posta na oração principal.
Comparativas – As orações subordinadas
adverbiais comparativas exprimem uma comparação com o que é declarado na oração
principal.
A comparação pode ser assimilativa ou quantitativa.
É assimilativa, quando consiste em
assimilar uma coisa, assunto, pessoa, a outra mais importante ou mais
conhecida. As unidades comparativas assimilativas são como ou qual e
podem estar em correlação com assim ou tal posto
na oração principal, ou aparecer ainda assim como.
O medo é arma dos fracos, como a bravura a
dos fortes.
O jogo, assim como o fogo, consome em poucas
horas o trabalho de muitos anos.
A comparação quantitativa
compara, na sua quantidade ou intensidade, coisas, pessoas, qualidades
ou fatos.
Há três tipos de comparação quantitativa:
Igualdade – introduzida por como ou quanto em
correlação com o advérbio tanto ou tão da
oração principal.
Nada conserva e resguarda tanto a vida como a
virtude.
Superioridade – introduzida por que ou do
que em correlação com o advérbio mais da oração
principal.
Um homem pode saber mais do que muitos,
porém nunca tanto como todos.
Inferioridade – Introduzida por que ou do
que em correlação com advérbio menos da oração
principal.
O governo dos loucos dura pouco, o dos tolos ainda menos
que o dos velhacos.
OBSERVAÇÃO: Certos termos que estão
presentes na oração principal (até mesmo o verbo) não se repetem nas
orações subordinadas comparativas, pois esses são
facilmente subtendidos.
Conjunções subordinativas
comparativas: como,
tanto como, tal como, quanto, tanto quanto, assim como, como se, do que, tal,
qual, tal qual, que nem, que etc.
Conformativas – Exprimem uma ideia de
conformidade em relação ao que se declara na oração principal.
Conforme declarei, Madalena possuía um excelente coração.
(G. Ramos, SB, 122.)
Conseguiu fazer o trabalho como lhe ensinaram.
Fez os exercícios conforme o professor
determinou.
Conjunções subordinativas
conformativas: como,
conforme, segundo, consoante.
Proporcionais – Orações subordinadas adverbiais
proporcionais estabelecem uma relação de proporção com o que se declara na
oração principal.
À medida que a idade chega a nossa experiência
aumenta.
Aprendia à proporção que lia o livro.
Choviam os ditos ao passo que ela seguia pelas
mesas.
(Almada Negreiros, NG, 92.)
Conjunções subordinativas
proporcionais: à medida
que, à proporção que, ao passo que, (tanto mais) ... quanto mais,
(tanto mais) ... quanto menos, (tanto menos) ... quanto mais, (tanto
mais) ... menos etc.
OBSERVAÇÃO: Uma mesma conjunção ou
locução conjuntiva pode exprimir circunstâncias diferentes. O importante é
levar em conta o contexto para realizar a classificação.
Alguns exemplos...
v A conjunção subordinativa “desde que”, por
exemplo, pode introduzir, a depender do contexto, uma oração adverbial
condicional ou uma oração adverbial temporal.
Desde que usasse o material corretamente, conseguiria um bom resultado.
Oração adverbial condicional. A
condição para conseguir um bom resultado é usar o material corretamente.
Desde que fui mãe, minhas prioridades mudaram. Oração adverbial temporal. Acrescenta
uma circunstância de tempo à oração principal. “Desde o momento em que fui
mãe...”
v A conjunção subordinativa
“porque” pode, a depender do contexto, introduzir uma oração adverbial causal
ou uma oração adverbial final.
Não comparecerei à reunião, porque
estou doente. Oração
adverbial causal. O motivo/causa de não comparecer à reunião é porque está
doente.
Orai, porque não
entreis em tentação. Oração
adverbial final. A conjunção “porque”, nesse caso, pode ser substituída por
“para que”, uma vez que exprime uma finalidade, um objetivo.
v A conjunção subordinativa “como”
pode introduzir, a depender do contexto, uma oração subordinada adverbial
comparativa, conformativa, causal etc.
Recebeu a todos como um
anfitrião. (receberia) Oração
adverbial comparativa. Exprime uma comparação. “Recebeu a todos assim como
um anfitrião.”
Conseguiu executar a receita como
a mãe lhe ensinou. Oração
adverbial conformativa. Exprime relação de conformidade. “Conseguiu executar a
receita conforme/consoante/segundo a mãe lhe ensinou.
Como era irritante, ninguém o queria por
perto. Oração adverbial causal.
A causa/motivo de ninguém o querer por perto é porque é irritante.
Orações subordinadas
adverbiais desenvolvidas e reduzidas
Assim como as demais orações subordinadas reduzidas
as adverbiais podem, a depender da forma nominal que o verbo se encontra, serem
classificadas como: adverbias reduzidas de infinitivo, gerúndio ou particípio.
Exemplos:
Com fazer todas as obrigações corretamente, não conseguiu livrar-se da
falência.
A oração em destaque, é uma oração
adverbial concessiva reduzida de infinitivo, uma vez que não
é introduzida por conjunção subordinativa, mas sim, nesse caso, pela preposição
“com” e o verbo está conjugado na forma nominal infinitivo.
Equivale a oração desenvolvida: Embora fizesse
todas as obrigações corretamente, não conseguiu livrar-se da falência. -
Oração subordinada adverbial concessiva.
Chovendo não sairei
A oração “chovendo” é uma oração
condicional reduzida de gerúndio, uma vez que não é introduzida por uma conjunção
subordinativa e seu verbo está na forma nominal de gerúndio.
Equivale a oração desenvolvida: Se chover,
não sairei. Oração subordinada adverbial condicional.
Acabada a festa, retirou-se.
A oração “acabada a
festa” tem valor adverbial, traz uma noção temporal. Essa oração não vem
introduzida por nenhuma conjunção subordinativa e o verbo está na forma nominal
de particípio, portanto, essa oração é classificada como: Oração adverbial
temporal reduzida de particípio.
Equivale a oração desenvolvida: Quando acabou a
festa, retirou-se. – Oração subordinada adverbial temporal.
Orações
adverbiais reduzidas de infinitivo
As orações adverbiais reduzidas de infinitivo
podem vir ou não regidas de preposição e, como as desenvolvidas, classificam-se
em:
Causais – Normalmente introduzidas pela
preposição por, mas pode ser introduzidas pelas preposições: de, com, em, visto ou
por locuções como: em consequência de, em vista de, em
razão de, por causa de etc.
De tanto pedir, eu entrara na posse do objeto
sonhado.
(J. L. do Rego, ME, cap. 27.)
Visto sair de manhã bem cedo, não é muito conhecido pelos
vizinhos.
Concessivas – introduzidas pelas
preposições ou locuções sem, apesar de, com, não
obstante, sem emprego de etc.
Apesar de estar doente, saiu para o trabalho.
Sem o querer, associou o trio à imagem das
bancas examinadoras.
(An. Machado, HR, 17.)
Condicionais – Introduzidas pelas preposições ou
locuções a, sem, na hipótese de, no
caso de etc.
Na hipótese de ser feriado amanhã, a conferência
será pronunciada no sábado.
Não sairá sem apresentar os exercícios.
Consecutivas – Introduzidas pelas preposições ou
locuções de, para, sem, aponto de etc.
É feio de meter medo.
Muito alucinado devia de estar Simão para lhe
não ver as lágrimas.
(Camilo, AP, 116)
Finais – Podem ser
introduzidas pelas preposições a, para, de, por etc., ou
podem apresentar-se justapostas,
isto é, sem preposição.
Muitos personagens eminentes do Império e diversas
famílias, ligadas por aproximação de afeto à família imperial, apresentaram-se a
falar ao imperador.
Foram a Inglaterra pelejar em desagravo
das damas inglesas.
Temporais – Introduzidas pela preposição a combinada com
o artigo o e, pelas preposições ou locuções após, até, de, antes, depois
de etc.
A borboleta, depois de esvoaçar muito em
torno de mim, pousou-me na testa.
Tais eram as minhas reflexões ao afastar-me
do pobre.
Orações
adverbiais reduzidas de gerúndio
Causais –
Pressentindo que as suas intenções haviam sido adivinhadas,
Macedo tentou minorar a situação.
(Ferreira de Castro, OC, 1,89.)
Não sendo meu costume dissimular ou esconder nada,
contarei nessa página o caso do muro.
(M. de Assis, BC, 286.)
Concessivas –
Mesmo estando doente, saiu para o trabalho.
Sendo pobre, ainda assim auxiliava os mais pobres.
Condicionais –
Tendo livres as mãos, poderia fugir do
cativeiro.
Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria.
(Gr. Ramos, Inf., 32.)
Orações
adverbiais reduzidas de particípio
São mais comuns, nesse caso, as orações
temporais
Decorridos alguns dias, D. Rita disse ao marido que tinha
medo de ser devorada das ratazanas.
(Camilo, AP, 12)
Acabada a cerimônia, demos a volta ao adro.
(V. Nemésio, SOP, 90.)
Mas também, as orações adverbiais reduzidas de
particípio também podem ser
Causais –
Desesperado, parecia um doido por toda a casa.
(M. Torga, NCM, 36.)
Irado o infante com as injúrias que lhe tinham dito,
mandou enforcar uns e degolar outros.
(ALEXANDRE HERCULANO, Fragmentos, 96).
Concessivas –
Creio, porém, que, ainda admitidas as
exagerações do Jornal do Comércio, pode-se assegurar que a guerra está
concluída. (J. de Alencar, OC, IV, 1331.)
Mesmo afastado o perigo, o temor ainda lhe perpassava no
olhar.
Condicionais –
Entramos em uma batalha, onde, vencidos os
inimigos, honraremos nosso país.
Dada essa hipótese, espero de nossos amigos
dedicados que não sofrerão impassíveis uma oposição injusta.
(J. de Alencar, CD, 33.)
Referências:
BECHARA, Evanildo. Lições de português pela
análise sintática. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática do português. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
KURY, ADRIANO DA GAMA. Novas Lições de análise sintática. 9 ed. São Paulo: Ática, 2006.
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