A TEORIA DA PARÓDIA, DE LINDA HUTCHEON, E O ENSINO DA LITERATURA E DAS ARTES


João Victor Petroni Rodrigues (SP3022803)

Larissa Alves da Silva (SP1765256)

 

No capítulo introdutório do livro Uma teoria da paródia, a crítica literária canadense Linda Hutcheon oferece um vasto panorama da Paródia e das discussões teóricas acerca dela. Assim, a autora destaca o papel proeminente desta no contexto histórico e estético do século XX – ligado a um Ocidente pós-moderno que se define, sobretudo, pelo desenvolvimento pós-industrial –, e cita, para isso, muitos exemplos notáveis em diversas áreas da arte: cinema, música, literatura, pintura etc. De acordo com ela, “a paródia é, neste século, um dos modos maiores da construção formal e temática de textos” (p.13), revelando um modo de autorreflexão importante da Modernidade.

Em seguida, Hutcheon se propõe a abordar a Paródia enquanto gênero artístico, resgatando o que se discutiu sobre ela em teoria estética e literária ao longo dos tempos, e buscando defini-la, a fim de encontrar uma unidade para os fenômenos diversos por que ela se estende. Ademais, o capítulo anuncia a postura defensiva da autora diante da Paródia: ela busca legitimá-la e explicá-la positivamente, ao contrário de muitos teóricos que, inspirados por noções românticas de genialidade, criatividade, originalidade etc., a consideram parasitária e antioriginal. Este conflito é compreensível e até previsível, porque, como afirma a própria autora, a Paródia se afasta da tendência ideológica romântica “para mascarar quaisquer fontes com uma astuta canibalização”, indo “em direção a um franco reconhecimento (por meio da incorporação) que permite o comentário irônico” (p.20).

Mas o que seria, então, a Paródia para Hutcheon? Antes de tudo, cabe apontar que ela não é “aquela imitação ridicularizadora mencionada nas definições dos dicionários populares” (p.16). Define-se, antes, como uma forma específica de imitação que se caracteriza pela inversão irônica, não necessariamente do discurso parodiado em si, mas de aspectos seus tais como o contexto, o estilo, as personagens, o cenário, o enredo, a ideologia etc. Mostra-se a Paródia, portanto, como “uma confrontação estilística, uma recodificação moderna que estabelece a diferença na cotação da semelhança” (p.19). Depreende-se daí outra diferenciação: paródia não é sátira nem está contida nela, tampouco o contrário é verdadeiro, porque a sátira tem, necessariamente, um alcance moral e social e uma intenção aperfeiçoadora, e se perfaz sobretudo provocando o riso e o sentimento de repulsa. Isso não ocorre na Paródia: seu alcance não precisa ser moral nem social, sua intenção não é aperfeiçoadora e os meios pelos quais se realiza não são, exclusivamente, o riso e a invectiva.

Por fim, é sabendo que a Paródia é um gênero utilizado pelos artistas modernos para lidar “com o peso do passado” e produzir novidades por meio de uma reconsideração da tradição discursiva mundial e de tudo o que ela projetou (p.39), que se pode refletir sobre a sua aplicabilidade no ensino de Literatura e Artes. Hutcheon já o sugere, quando afirma que “pouca atenção se prestou ao valor didático da Paródia no ensino ou cooptação da arte do passado, por meio da incorporação textual e do comentário irônico” (p.40).

Com efeito, ao se assumir que a Paródia não se restringe a uma imitação ridicularizadora que produz estereótipos e simplificações dos objetos da tradição discursiva, mas que é antes uma forma de reelaboração criativa rica em intenções, possibilidades, técnicas e resultados, reconhece-se o valor dela para o conhecimento efetivo da arte do passado. Alinhada ao conhecimento sistematizado desta, à leitura dos discursos artísticos e à reflexão sobre estes, a prática da Paródia leva o estudante a efetivamente aproximar-se do objeto de arte em questão e do seu contexto. Fazendo isso, discerne as características formais, temáticas, estéticas que o compõe, para que possa agir sobre elas, recriando a obra e criando uma nova, autoral, simultaneamente. A aquisição de conhecimento sobre o que se parodia e sobre o seu contexto é produto natural do processo, e conecta o estudante com a tradição de forma pertinente; ao mesmo tempo, dá abertura à sua liberdade criativa, à sua subjetividade e à forma como ele entende não só aquilo que parodia, mas a própria realidade em que se vê inserido.

Conclui-se, assim, que as ideias de Linda Hutcheon sobre a Paródia oferecem reflexões importantes e pertinentes para o tema, esclarecendo diversos pontos e lançando muitas questões novas sobre ele. Dentre elas, a relevância da prática paródica no contexto educacional, como forma de produzir conhecimentos aprofundados e contextualizados sobre a tradição artística por parte dos estudantes, numa perspectiva dialética e criativa em que se incorporam, também, a originalidade de cada um e a criatividade por meio de uma prática simultaneamente imitativa e crítica.

 

Referência: Introdução (cap. 1). In: HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia. Trad. Teresa Louro Pérez. Lisboa: Edições 70, 1985. p. 11-43.

 

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