CRASE

 


Dentro das regras de acentuação gráfica temos um elemento que se diverge em questão de função de uso: a crase (acento grave - `). A crase é um metaplasmo por supressão de dois fonemas iguais, ou seja, para evitar a repetição de dois a seguidos, por exemplo, temos apenas um acentuado que equivale aos dois a unidos. Entretanto, existem os casos que exigem esse uso e neste texto serão apresentados quais são e como devemos utilizar esse elemento.

Em alguns momentos pode ocorrer um encontro de preposição a com artigo a(s) na construção de sentenças, assim como com pronome demonstrativo feminino a(s), ou com o a de aquele, aquelas, aquilo, a qual e as quais. Quando esse encontro ocorre, os sons se fundem em um só e, na transposição gráfica, utiliza-se o acento grave para marcar essa união.

Exemplo: Não irei hoje à (artigo + preposição) cidade.

Não irei hoje a + a cidade.

 

Notemos que o substantivo cidade permite o uso de artigo feminino definido e a regência do verbo “ir” pede preposição a, para. Portanto, a união dos dois elementos ocasiona uma supressão para evitar que ocorra repetição e para isso será utilizada a crase.

  1. A crase quando há: preposição + artigo

a)      Nos casos em que ocorre a fusão de preposição e artigo, é importante lembrar que a crase só será possível quando o artigo preceder um substantivo feminino, expresso ou não, que permita o uso do artigo e constitua junto a preposição um complemento para o que antecede.

Exemplos: Sua frequência às aulas é irregular.

·         Observações: no primeiro exemplo temos a junção do artigo feminino com a preposição que pede o substantivo frequência, sendo assim temos: frequência a+as aulas. Se a palavra que admite o artigo feminino definido estiver no plural, teremos a ocorrência de “às”.

b)      Quando o artigo for facultativo, ou seja, uso opcional antes de possessivos, nomes próprios femininos de pessoa ou alguns de lugar, a crase também será facultativa.

Exemplo: Dê o brinquedo a Luiza. (ou à Luiza)

Vou a África. (ou à África)

Leve isto a sua casa. (ou à sua casa)

·         Observações: apesar de termos em todos os exemplos uma preposição a e um substantivo feminino, por ser facultativo o uso do artigo para este, utilizar ou não a crase torna-se escolha de quem escreve.

 

  1. A crase no uso de determinantes: qualquer, esta ou cuja

Nos casos em que os substantivos estiverem determinados por qualquer, esta e cuja, também não haverá o uso da crase pois estes não podem trazer o artigo.

Exemplo: Leve o livro a qualquer livraria.

Não comparecerei a esta festa.

É uma jovem a cuja inteligência faço justiça.

·         Observações: notemos que os substantivos livraria, festa e inteligência são femininos e temos uma preposição que completa o sentido do que se antecede, mas, por haver construções com termos que não admitem a presença de artigo definido feminino (é agramatical a construção *a qualquer livraria está aberta; *a esta livraria está aberta), a crase não será usada.

 

  1. Quando há preposição + artigo feminino, mas NÃO ocorre crase

Podem ocorrer casos em que a palavra, por mais que feminina, não aceite o uso do artigo definido e por isso não será usada a crase.

Exemplo: Voltarei a Paris ainda este ano.

No exemplo acima o substantivo Paris repele o uso do artigo por não estar determinado e podemos confirmar isso utilizando outras construções como: vive em Paris, saiu de Paris, passou por Paris. O mesmo não ocorre se substituirmos por Alemanha, por exemplo: vive na Alemanha, saiu da Alemanha, passou pela Alemanha. Nesse caso, teríamos: Voltarei à Alemanha ainda este ano.

 

  1. Para designar horas, a crase deverá ser usada.

Exemplo: Estarei na escola às cinco.

·         Observações: a crase SOMENTE aparece em construções que designam as horas. Veremos mais adiante os casos em que ela não ocorre e estes incluem números cardinais.

 

  1. Locuções adverbiais femininas SEMPRE usarão crase

Locução adverbial é a união de duas ou mais palavras que, juntas, exercem a função de advérbio e alteram o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio. Nos casos em que a locução, expressa ou não, utiliza palavras femininas, teremos o uso da crase.

Exemplo: À tarde ela trabalha no hospital, mas à noite ela está em casa

Ele escreve à (moda de) Machado de Assis, isto é, com elegância e naturalidade.

·         Observação: No segundo exemplo temos um adjunto adverbial de modo (à moda de) e o trecho destacado em azul sofre uma elipse, portanto é um dos casos nos quais não teremos um substantivo feminino expresso e, por questão de coerência com o sentido da frase, entende-se a presença do elemento oculto e marcamos a crase por haver a necessidade da preposição.

 

  1. Casos em que NÃO ocorre a crase (pois não satisfazem o pressuposto essencial: nome ou verbo que pede preposição A + nome que admite artigo definido feminino A):

 

a)      Antes de substantivo masculino:

Exemplo: Andamos a cavalo.

Entrega a domicílio.

 

b)      Diante de verbos:

Exemplo: A criança começou a falar.

Preferiu morrer a entregar-se.

 

c)      Antes de artigo indefinido (ainda que feminino):

Exemplo: Já assistiram a uma partida de tênis?

 

d)     Antes de pronome pessoal e de tratamento (ainda que feminino):

Exemplo: Diga a ela que não estarei em casa amanhã.

Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos.

·         Observação: É facultativo o emprego da crase antes dos seguintes pronomes de tratamento: senhora, senhorita e dona, já que esses pronomes admitem a presença de artigo definido feminino.

Exemplo: Senhora Maria chegou agora. A Senhora Maria chegou agora.

 

e)      Em expressões como gota a gota, cara a cara, etc, como ocorre a falta de artigo, também ocorrerá a falta da crase:

Exemplo: A água caía gota a gota.

Ele estava cara a cara com seu maior pesadelo.

 

f)       Números cardinais:

Exemplo: Chegou a duzentos o número de feridos.

Daqui a uma semana começa o campeonato.

 

g)      Antes de pronome demonstrativo, indefinido, relativo, ou interrogativo:

Exemplo: Não sei responder a essa pergunta.

Chegaram vocês a alguma conclusão?

Trata-se de pessoas a quem respeito muito.

A que profissão se destina o rapaz?

 

DICAS

Para certificar-nos sobre o uso da crase, podemos utilizar a substituição do substantivo feminino por um masculino. Se a crase também for substituída por AO (preposição A + O artigo masculino), estaremos confirmando a necessidade de uso.

Exemplo: Compareci à sala vizinha.

Compareci ao casamento.

Outra maneira de confirmar o uso da crase é conferir se, ao trocarmos a preposição, a fusão artigo + preposição é mantida.

Exemplo: Irei a Copacabana. Venho de Copacabana. Moro em Copacabana.

Neste exemplo, notemos que o artigo não é utilizado e, portanto, não será usada a crase. O mesmo não ocorre em: Irei à Tijuca. Venho da Tijuca. Moro na Tijuca.

 

 

 

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática do português. 38. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

 

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