CONCORDÂNCIA VERBAL


É a concordância em número e pessoa entre o verbo da oração e o sujeito (ou o predicativo – em menor número de casos).

 

REGRAS GERAIS

 

1) Com apenas um núcleo (sujeito simples): o verbo concorda em pessoa e número.

a) Sujeito simples e singular: o verbo irá para o singular, ainda que seja um coletivo ou um grupo.

Ele construiu um castelo.”

A alcateia era feroz.”

O povo lutou por isso.”

A gente vai almoçar na sua casa.”

b) Sujeito simples e plural: o verbo irá para o plural.

Nós viajamos para o Rio de Janeiro.”

As mulheres compraram os vestidos.”

Observação: com títulos e nomes que apenas existem no plural, o verbo geralmente irá para o plural, principalmente se apresentar artigo antes do nome.

Os Estados Unidos entraram em uma grande crise.” – nome no plural (Estados Unidos) antecedido por artigo no plural (os) e com o verbo no plural (entraram).

Entretanto, o verbo também pode aparecer no singular, independente de apresentar artigo no plural ou não, quando se tratar do verbo “ser” e o predicativo também estiver no singular:

“Os Estados Unidos é muito grande.” – a oração apresenta um nome no plural (Estados Unidos) e o verbo “ser” está no singular, concordando com o predicativo no singular.

 

2) Com mais de um núcleo (sujeito composto): o verbo irá, na maioria das vezes, para o plural, não importando a sua posição em relação ao sujeito.

Alice e Aline visitaram a mãe na praia.”

O seu desempenho, a sua frequência e o seu comportamento influenciaram a sua nota.”

Observação: a pessoa do verbo é determinada de acordo com a seguinte ordem:

a) A primeira pessoa tem preferência em relação às outras.

b) Com a ausência da primeira pessoa, a preferência é da segunda pessoa.

c) Sem a primeira e segunda, o verbo aparece na terceira pessoa.

Exemplos:

a)Eu e minha mãe frequentamos a Igreja aos domingos.”

(Nós) frequentamos – o verbo assume a 1ª pessoa.

b)Tu e o meu pai conhecereis meus filhos.”

(Vós) conhecereis – o verbo assume a 2ª pessoa.

Observação: não é um uso comum da linguagem contemporânea. No Brasil, com o maior uso de você ao invés de tu, o verbo concorda, tanto na língua escrita quanto na língua falada, com a 3ª pessoa do plural. Veja:

Você e o meu pai conhecerão meus filhos.”

(Vocês/Eles) conhecerão – o verbo assume a 3ª pessoa.

c)A professora e a diretora foram muito simpáticas comigo.”

(Elas) foram – o verbo assume a 3ª pessoa.

 

Outros casos com sujeito composto:

1) Caso o sujeito apareça depois do verbo, o verbo pode concordar com o núcleo mais próximo:

Seria apresentado um teatro e três números de dança.”

Ou com o verbo concordando com o número de núcleos do sujeito:

Seriam apresentados um teatro e três números de dança.”

2) Caso o sujeito tenha substantivos sinônimos ou quase sinônimos, o verbo pode aparecer no singular:

A alegria e a felicidade dele era visível.”

Com o verbo concordando com o número de núcleos do sujeito:

“A alegria e a felicidade dele eram visíveis.”

3) Caso o sujeito seja uma gradação de ideias, o verbo pode aparecer no singular, concentrando o sentido apenas no último termo apresentado:

“E entrava a girar em volta de mim, à espreita de um juízo, de uma palavra, de um gesto, que lhe aprovasse a recente produção.” (Machado de Assis)

 

OUTRAS REGRAS

 

1) Sujeito ligado por série aditiva enfática: quando os núcleos do sujeito composto são ligados por “tanto... como”, “tanto... quanto”, “assim... como”, “não só... mas”, “não só... como”, etc. é comum o verbo ir para o plural.

Tanto minha mãe como minha irmã usavam as minhas roupas.”

Não só os professores, mas também os alunos, seriam prejudicados.”

Observação: raramente, o verbo irá para o singular, concordando com o sujeito mais próximo.

Tanto eu, quanto meu irmão, perguntava o que havia acontecido.”

 

2) Sujeito ligado por “com”: normalmente o verbo é empregado no plural para concordar com os dois núcleos do sujeito que estão ligados pela preposição “com”.

O rei com a rainha estavam acenando para o povo.” – o verbo está no plural.

A mãe com o filho chegaram em casa” – o verbo está no plural.

Observação: raramente, caso o segundo núcleo do sujeito seja colocado apenas como um complemento adverbial de companhia, com o verbo da oração dando ênfase apenas ao primeiro, o verbo irá para o singular.

A professora, com a diretora, entrou na escola” – o verbo está no singular.

 

3) Sujeito ligado por “nem... nem”: quando os núcleos do sujeito composto são ligados por essa expressão, o verbo geralmente irá para o plural, mas às vezes pode assumir o singular.

Nem a Argentina, nem o Brasil conseguiram abrir os aeroportos.” – o verbo está no plural.

Nem a praia, nem a piscina bastava para o turista.” – o verbo está no singular.

Observação: no caso de “nem um... nem outro”, o verbo irá sempre para o singular.

Nem um nem outro conseguiu ir trabalhar.”

 

4) Sujeito ligado por “ou”: o verbo pode aparecer no singular ou no plural dependendo do sentido expresso.

a) Quando “ou” significar alternativa ou exclusão, o verbo irá concordar com o sujeito mais próximo.

A menina ou o menino vai ganhar a corrida.” – ambos os substantivos estão no singular e o verbo também está no singular – só um ganhará a corrida, a ideia é de exclusão.

O professor ou os responsáveis pela turma deverão acompanhar os alunos.” – o verbo está no plural concordando com a ideia de alternativa (tanto um quanto outro).

b) Quando “ou” significar equivalência, com o verbo podendo se referir a qualquer um desses sujeitos, o verbo irá concordar com o sujeito mais próximo.

O vendedor ou comerciante entende a gravidade da situação.” – o verbo está no singular concordando com o sujeito mais próximo “comerciante”, já que são duas palavras sinônimas.

c) Quando “ou” significar retificação de número gramatical, o verbo irá concordar com o sujeito mais próximo.

Um ou dois livros foram vendidos.” – o verbo está no plural concordando com o sujeito mais próximo “dois livros”.

d) Quando “ou” significar adição ou o predicado estiver se referindo a todos os núcleos do sujeito composto, o verbo geralmente irá para o plural e raramente ficará no singular.

O calor forte ou frio excessivo eram temperaturas igualmente prejudiciais ao doente.” – o verbo está no plural porque o predicado está abrangendo o sujeito composto completo, já que ambos representam.

 

5) Expressões de sentido quantitativo acompanhadas de complemento no plural: se o sujeito da oração é representado por expressões quantitativas como: “a maioria de”, “a maior parte de”, “grande parte de”, “grande número de”, “grande quantidade de”, “parte de”, etc. acompanhadas de um nome ou nome de grupo no plural, o verbo pode ir para o singular ou para o plural.

A maioria das mulheres eram felizes” – o verbo está no plural concordando com o substantivo “mulheres”, que está assumindo a posição de núcleo do sujeito.

A maioria dos homens não sabia da verdade” – o verbo está no singular concordando com a expressão “a maioria”, que está assumindo a posição de núcleo do sujeito.

Observação: caso o núcleo do sujeito não se refira à ideia de quantidade ou caso a ação do verbo se refira ao coletivo e não aos indivíduos separadamente, o verbo deve ir para o singular.

“Uma equipe de bombeiros apagou o fogo.” – o verbo está no singular concordando com o núcleo do sujeito, “equipe”.

“A greve dos professores durou duas semanas.” – o verbo está no singular concordando com o núcleo do sujeito, “greve”.

 

6) Sujeito representado por “cada um de” + plural: sempre que houver essa expressão, o verbo deverá ficar no singular.

Cada um de nós pode fazer algo bom.” – verbo no singular (pode).

Cada uma das crianças precisa de um presente.” – verbo no singular (precisa).

 

7) O verbo “ser”: assim como qualquer outro verbo, o normal é o verbo concordar com o sujeito em número e pessoa.

Eu serei um funcionário mais dedicado.” – verbo na 1ª pessoa e no singular.

As meninas são populares.” – verbo na 3ª pessoa e no plural.

 

Entretanto, no caso do verbo ser, a concordância verbal também pode ser feita com o predicativo, principalmente no plural. Veja quando isso ocorre:

a) Se o sujeito da oração é um dos pronomes isto, isso, aquilo, tudo, ninguém, nenhum ou uma expressão de valor coletivo como “o resto”, “o mais”, etc.:

O resto são mentiras e segredos.” – o verbo (são) está concordando com o predicativo no plural (mentiras e segredos).

Aquilo são pessoas fantasiadas?” – o verbo (são) está concordando com o predicativo no plural (pessoas fantasiadas).

Eram tudo sonhos adolescentes.” – o verbo (eram) está concordando com o predicativo no plural (sonhos adolescentes).

b) Se o sujeito da oração é um dos pronomes interrogativos quem, que, o que:

Quem são aquelas pessoas?” – o verbo (são) está no plural concordando com o predicativo no plural (aquelas pessoas).

O que eram discos de vinil?” – o verbo (eram) está no plural concordando com o predicativo no plural (discos de vinil).

c) Se o verbo ser possuir sentido de “ser feito de” ou de “ser constituído de”:

O barraco eram algumas madeiras e telhas.” – o verbo (eram) está no plural concordando com o predicativo no plural (algumas madeiras e telhas).

d) Se o verbo ser for empregado impessoalmente (sem sujeito) para designar horas, datas ou distâncias:

“Já são dez horas.” – o verbo está no plural.

“Ainda é uma hora.” – o verbo está no singular.

São 25 de julho.” – o verbo está concordando com o número.

“Hoje é dia 25 de julho.” – o verbo está concordando com a palavra “dia”.

É um metro de distância.” – o verbo está no singular.

São 30 quilômetros de estrada.” – o verbo está no plural.

Observação: a concordância pode ser feita tanto no singular quanto no plural quando houver uma expressão como “perto de” ou “cerca de” antes do predicativo no plural. Veja:

Eram cerca de onze horas quando cheguei.” – o verbo está no plural concordando com “onze horas”.

Era perto de onze horas quando cheguei.” – o verbo está no singular concordando com “perto”.

e) Se o verbo ser for empregado dentro de expressões como é muito, é pouco, é bom, é demais, é mais de, é tanto e o sujeito for um termo no plural que indique peso, medida ou quantidade, o verbo irá concordar com o predicativo e ficará no singular:

“Mil reais é muito.”

“Quinze anos é demais.”

f) Se o verbo ser estiver entre dois substantivos, ele geralmente concordará com o plural, mas também pode concordar com o termo que tiver mais relevância na frase:

Justiça é as virtudes todas.”

A comunidade são todos.”

 

Atenção: veja casos em que o verbo ser concorda com o sujeito:

a) Se o sujeito for um nome de pessoa ou um pronome pessoal, o verbo concorda com o sujeito, não importando o número do predicativo:

Ela era as preocupações do pai.”

Alice era todas as belezas do mundo.”

b) Se o verbo ser aparecer no início de narrações como “era uma vez”, ele estará sendo usado como um verbo intransitivo com o sentido de “existir”, dessa maneira, irá concordar com o substantivo que o acompanhar, que é considerado o sujeito da oração:

Era uma princesa...”

Eram três mosqueteiros...”

Observação: como a construção “era um vez” é muito presente e enraizada na língua, isso faz com que frases como “era uma vez duas princesas” sejam usadas, mesmo que o sujeito seja termo no plural.

 

Atenção: veja casos em que o verbo ser é invariável:

a) A expressão “é que”, usada geralmente para reforçar o que está sendo dito, é invariável e o verbo da oração se flexiona normalmente:

“Nós é que vamos ao parque.”

“Esses livros é que não leremos por enquanto.”

Observação: o verbo “ser” e a partícula “que” ainda podem aparecer em uma oração separados, com o verbo “ser” no plural acompanhado de um termo no plural, mas a gramática normativa não aprova esse tipo de construção, como:

Foram nesses livros que estavam as respostas.”

A construção indicada pela gramática normativa para essa frase seria:

“Nesses livros foi que estavam as respostas.” – em que o verbo (foi) está no singular.

b) Se houver expressões como “é de ver” ou “é de reparar” com sentido de “é coisa para ver” e “é coisa para reparar”, o verbo ficará no singular, mesmo seguido de substantivo no plural:

É de reparar as brigas dos vizinhos.”

Observação: caso tenha um nome no plural antes do verbo, o verbo ficará no plural concordando com esse nome.

“As paisagens eram de ver.”

 

8) Expressão “mais de um”: após a expressão, o verbo é geralmente empregado no singular, concordando com o substantivo.

Mais de um aluno gabaritou a prova.” – o verbo “gabaritou” está no singular, concordando com o substantivo “aluno”.

Observação: caso a expressão “mais de um” apresente ideia de reciprocidade, apareça repetida ou acompanhada de complemento no plural, o verbo irá para o plural.

Mais de um carro, mais de um caminhão, foram assaltados na estrada.” – expressão “mais de um” repetida.

Mais de uma dançarina se agrediram” – expressão com significado de ação recíproca.

Mais de um milhão de pessoas pegaram a doença.” – substantivo “milhão” acompanhado de complemento no plural, “de pessoas”.

 

9) Sujeito representado por quais, quantos, alguns, muitos, poucos, vários + de nós, de vós, dentre nós, dentre vós: quando o sujeito é representado por essa construção, o verbo fica na 3ª pessoa do plural ou concorda com a expressão partitiva introduzida por “de” ou “dentre” (“nós” ou “vós”).

Quais de nós gostam de ir à praia?” – o verbo está no plural concordando com “quais”.

Quais de nós gostamos de ir à praia?” – o verbo está no plural concordando com “nós”.

Observação: caso a expressão esteja no singular, o verbo também irá para o singular.

Qual de nós foi o melhor dançarino?” – o verbo está na 3ª pessoa do singular concordando com o pronome interrogativo, nesse caso é impossível o verbo aparecer no plural.

 

10) A concordância com pronomes relativos:

a) Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “que” e ele vier após um pronome demonstrativo, o verbo da oração adjetiva irá para a 3ª pessoa e concordará em número com o antecedente ao pronome.

Aquele que planeja alcança mais objetivos.” – no singular.

Aqueles que planejam alcançam mais objetivos.” – no plural.

b) Se o sujeito da oração é o pronome relativo “que”, o verbo irá concordar com o antecedente ao pronome, desde que o que vier antes do pronome não funcione como predicativo de outra oração.

“Foram eles que compraram os sorvetes.” – o verbo “comprar” ficou no plural concordando com o pronome “eles”.

c) Se o que antecede o pronome relativo funciona como predicativo de outra oração, o verbo da oração adjetiva pode concordar com o sujeito da oração principal ou assumir a 3ª pessoa:

“Sou eu o primeiro que não sei andar de bicicleta.” – concordando com o sujeito da oração principal.

“Sou eu o primeiro que não sabe andar de bicicleta.” – com o verbo na 3ª pessoa.

d) Quando houver expressões como “sou eu que”, “fomos nós que”, etc. o verbo irá concordar com o sujeito do verbo ser. Veja:

Sou eu que cuido dos animais.” = eu cuido – 1ª pessoa do singular.

Fomos nós que viajamos para Dubai.” = nós viajamos – 1ª pessoa do plural.

e) Quando houver o pronome “quem”, o verbo da oração subordinada fica na 3ª pessoa do singular, havendo a possibilidade também de concordar com o que antecede o pronome:

1. “Fui eu quem comprou a comida.” – o verbo está na 3ª pessoa do singular.

2. “Fui eu quem comprei a comida.” – o verbo está concordando com o pronome “eu” que antecede o pronome “quem”, assumindo a 1ª pessoa do singular

Observação: com a predominância do uso de “que” no lugar de “quem”, está tornando-se cada vez mais raro encontrar a segunda construção, sendo substituída por “fui eu que comprei a comida”.

f) Quando houver a expressão “um dos... que”, o verbo pode ficar no singular concordando com “um”, ou pode ir para o plural, concordando com o substantivo no plural que está no meio da expressão e serve como sujeito da oração. A flexão do verbo no plural é a mais comum e a mais indicada pela gramática normativa:

Um dos atores que mais protagonizam filmes daquela produtora.” – o verbo está no plural concordando com o substantivo no plural “atores”.

Observação: caso a ação do verbo seja específica ao “um” da oração, o verbo deve ficar no singular. Veja:

“Foi um dos seus irmãos que namorou comigo.”

 

11) Verbos impessoais: quando o verbo é empregado sem sujeito, ele assume a 3ª pessoa do singular.

Verbo flexionado segundo a gramática normativa

Forma não aceita pela gramática normativa

Deve haver muitos alunos na escola.”

Devem haver muitos alunos na escola.”

Trata-se de muitas vítimas.”

Tratam-se de muitas vítimas.”

“Já passa das onze horas.”

“Já passam das onze horas.”

 

Veja exemplos dos principais verbos impessoais no português:

a) Que representam fenômenos da natureza, com sentido próprio: chover, amanhecer, anoitecer, gear, nevar, etc.: (esses verbos podem não ser impessoais quando são usados com outro significado, como na oração “eles amanheceram felizes”).

b) Verbo “fazer” com sentido de tempo passado ou significando fenômenos astronômicos: “faz três meses que o acidente aconteceu”, “faz frio esta manhã”.

c) Verbo “haver” acompanhado de objeto direto: “ cinco prédios no meu bairro”, “se eu me apresentasse, haveria aplausos”.

 

12) Quando os verbos “dar”, “bater”, “soar” e sinônimos se referem a horas: em orações desse tipo, o sujeito pode assumir duas formas:

a) Quando o sujeito for o substantivo “relógio”, o verbo irá concordar com ele:

O relógio bateu dez horas.” – o verbo está no singular concordando com o sujeito.

b) Se não ocorrer o caso acima, o sujeito da oração será o número que indica as horas e o verbo deverá concordar com ele:

Soaram cinco horas.”

“No relógio, deram seis horas.” – nesse caso relógio assume função de adjunto adverbial de lugar.

 

13) Voz passiva com a partícula “se”: o verbo acompanhado da partícula “se”, seguido de substantivo no plural, deve concordar com o substantivo, que é o sujeito da oração. Normalmente, esse sujeito aparece depois do verbo e sofre a ação verbal, sendo identificada a voz passiva.

“Alugam-se casas.” – “casas” é o sujeito e o verbo “alugar” deve aparecer no plural, concordando com o substantivo.

“Vendem-se sorvetes.” – “sorvetes” é o sujeito e o verbo “vender” deve aparecer no plural, concordando com o substantivo.

Observação: em alguns casos, o substantivo no plural não é o sujeito, pois a oração deixa indeterminado quem pratica a ação verbal, dessa forma, o verbo será empregado no singular. Veja:

·         Se houver uma preposição entre o verbo e o substantivo no plural: “Precisa-se de vendedores”.

·         Se o verbo for intransitivo: “Caminha-se rápido nos dias de hoje”.

 

14) Locução verbal: a união de dois ou mais verbos pode ser considerada ou não uma locução verbal. Estas duas construções são possíveis no português:

1.Deve-se consertar os carros.” – com o verbo no singular.

2.Devem-se consertar os carros.” – com o verbo no plural.

1. Nesse caso, os verbos não são considerados uma locução verbal. Deve-se é o verbo principal da oração, reproduzido na voz passiva, enquanto o sujeito é a oração reduzida do infinitivo “consertar os carros”. As orações como sujeito são equivalentes a um substantivo no singular, portanto o verbo “deve-se” se flexiona no singular.

2. Nesse caso, o conjunto de verbos são considerados uma locução verbal. Dever é o verbo auxiliar da oração e consertar-se é o verbo principal, reproduzido na voz passiva, enquanto o sujeito é “os carros”. Quando houver locução verbal na oração, o verbo auxiliar deverá concordar com o sujeito em número e pessoa, desse modo, o verbo dever concorda com o sujeito “os carros”, com a oração sendo equivalente a “os carros devem ser consertados.”

Locução verbal: “Os computadores parecem funcionar.”

Com “parece” sendo o verbo principal da oração e não considerando a existência de uma locução verbal: “Os computadores parece funcionarem.” = “Parece funcionarem os computadores.”

Atenção: a construção “parecem funcionarem” não é adequada, segundo a gramática normativa, sendo considerada uma contaminação sintática das duas possibilidades aceitas.

Observação: Os verbos poder e dever acompanhados de um verbo no infinitivo geralmente são considerados como parte de uma locução verbal, dessa forma, eles concordam com o sujeito, no singular ou no plural, mas a construção “verbo no singular + sujeito no plural” também é aceita.

Podem-se contar essas histórias.”

Devem-se fazer essas atividades.”

Exceção: quando o sujeito da oração estiver explícito, não se pode ser feita a escolha livre entre as duas formas de concordância mostradas, veja:

Correta: “Quer-se inverter as leis.”

Errada: “Querem-se inverter as leis.”

Note que o sujeito é “inverter (as leis)”, porque não faz sentido a construção “as leis querem ser invertidas.”, por esse motivo o verbo quer deve permanecer no singular.

 

15) Expressão “não... senão” e equivalentes: quando houver expressões como “não... senão”, “nunca... senão”, “não... mais que”, “nunca... mais que”, “não... mais do que”, “nunca... mais do que”, etc. o verbo que estiver no meio da expressão deverá concordar com o sujeito.

Não se viam mais do que criminosos.”

Não me couberam mais que alegrias na vida.”

Observação: quando se tratar da 1ª ou 2ª pessoa, a concordância não obedece essa regra.

Ninguém votou contra o projeto senão nós três.”

Não haveria outro culpado senão tu.”

 

16) Aposto: quando houver, após o sujeito composto, um aposto representado por expressões como “cada um” ou “cada qual” e em seguida um verbo, o verbo deverá concordar com o aposto.

José e Maria cada qual fazia seu trabalho.” – o verbo ficou no singular concordando com a expressão “cada qual”.

Observação: se o verbo vier antes das expressões, a concordância será com o sujeito composto ou com o termo no plural, dessa forma, o verbo ficará no plural.

Elas faziam cada uma a sua fantasia.” – o verbo está no plural concordando com o pronome “elas”.

Outro caso: se o sujeito aparecer ampliado por um aposto, o verbo concorda com o sujeito.

Muitas aulas, a maioria talvez, são práticas.” – o verbo no plural (são) está concordando com o substantivo no plural “aulas”.

 

17) Expressão “haja vista”: essa expressão pode ter diferentes concordâncias.

a) Se considerar o verbo invariável, com sentido de “veja”, ele ficará no singular independentemente do número do substantivo.

Haja vista o acidente na rua.”

Haja vista as lições do seu filho.”

b) Considerando o substantivo como o sujeito da oração, o verbo pode assumir o plural se esse sujeito estiver no plural.

Hajam vista as lojas da avenida.”

c) Se entre a expressão e o substantivo houver a preposição “de” ou “a”, o verbo deve ficar no singular.

“Haja vista aos processos trabalhistas.”

“Haja vista dos temas que eles escrevem.”

Observação: a gramática normativa não admite a construção “haja visto”, que tem influência das expressões “visto que” e “visto como”. Com isso, haja visto o ocorrido” deve ser haja vista o ocorrido”.

 

18) Sujeito oracional: quando o sujeito é representado por uma oração ou por orações coordenadas, o verbo deve ficar no singular.

Parece que gosta de mim.”

Conhecer a história e entender o passado é fundamental para o povo.”

 

19) Expressões de porcentagem: quando o sujeito for formado por uma expressão numérica de porcentagem, geralmente, o verbo irá concordar com o substantivo que vier preposicionado após a expressão.

Treze por cento da população nordestina é analfabeta.” – o verbo ficou no singular em razão do substantivo no singular “população”.

Quarenta e oito por cento dos brasileiros com mais de vinte e cinco anos concluíram o ensino médio.” – o verbo ficou no plural em razão do substantivo no plural “brasileiros”.

Observação: a concordância também pode ser feita com o número da porcentagem, nos seguintes casos:

a) Se o substantivo preposicionado não aparecer na oração:

1% não respondeu a pesquisa.”

30% não gostaram das mudanças.”

b) Se houver artigo ou pronome antes da porcentagem:

Os 50% do serviço foram pagos.”

c) Se o verbo aparecer antes da porcentagem ou o substantivo preposicionado estiver deslocado:

Foram contratados 40% da lista de candidatos.”

Dos bolos fabricados, apenas 1% não foi vendido.”

 

20) “Vivam os campeões!”: expressões como “Viva!” e “Morra!” devem concordar com o sujeito. Embora a língua moderna tenha o costume de usar o verbo no singular independentemente do substantivo estar no singular ou não, como em Viva os campeões!”, a gramática normativa pede que o verbo esteja no plural em construções desse tipo, como em Vivam os campeões!”.

Observação: uma grande influência dessa tendência de colocar o verbo sempre no singular provavelmente vem da expressão “Salve!”, que é uma interjeição e invariável. Portanto Salve a rainha!” e Salve os campeões!” estão corretos, pois o substantivo no singular ou no plural não altera a construção.

 

21) Expressão “a não ser”: quando houver essa expressão, o verbo deve concordar com o sujeito, podendo ficar no singular ou no plural.

“Todos os restaurantes da rua fecharam, a não ser o mais famoso.”

“Ninguém acreditou nele, a não serem os seus amigos.”

 

22) Expressões “perto de”, “cerca de”, “mais de”, “menos de” e equivalentes: quando o sujeito está acompanhado de expressões que indicam quantidade aproximada, o verbo irá concordar com o sujeito.

 Cerca de cinco mil pessoas foram ao show.” – no plural.

Apodreceu mais de uma tonelada de carne.” – no singular.

 

23) Expressão “que dirá”: quando a oração apresenta essa expressão, o verbo será invariável em número e pessoa.

“Se você não sabe, que dirá eu.”

“Se você não sabe, que dirá nós.”

 

REFERÊNCIAS:

BECHARA, Evanildo. Lições de Português pela análise sintática. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.


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