CONCORDÂNCIA VERBAL
É a concordância em número e pessoa entre o verbo da
oração e o sujeito (ou o predicativo – em menor número de casos).
REGRAS GERAIS
1) Com
apenas um núcleo (sujeito simples): o
verbo concorda em pessoa e número.
a) Sujeito simples e
singular: o verbo irá para o
singular, ainda que seja um coletivo ou um grupo.
“Ele construiu um castelo.”
“A alcateia era feroz.”
“O povo lutou por isso.”
“A gente vai almoçar na sua casa.”
b) Sujeito simples e
plural: o verbo irá para o plural.
“Nós viajamos para o Rio de Janeiro.”
“As mulheres compraram os vestidos.”
Observação:
com títulos
e nomes que apenas existem no plural, o verbo geralmente irá para o plural, principalmente se apresentar
artigo antes do nome.
“Os Estados
Unidos entraram em uma grande
crise.” – nome no plural (Estados Unidos) antecedido por artigo no plural (os)
e com o verbo no plural (entraram).
Entretanto, o verbo também pode aparecer no singular, independente de apresentar artigo no plural ou não, quando
se tratar do verbo “ser” e o predicativo também estiver no singular:
“Os Estados Unidos
é muito grande.” – a oração apresenta
um nome no plural (Estados Unidos) e o verbo “ser” está no singular,
concordando com o predicativo no singular.
2) Com
mais de um núcleo (sujeito composto): o
verbo irá, na maioria das vezes, para o plural, não importando a sua posição em
relação ao sujeito.
“Alice e Aline
visitaram a mãe na praia.”
“O seu desempenho,
a sua frequência e o seu comportamento influenciaram
a sua nota.”
Observação: a pessoa do verbo é determinada de acordo com a seguinte
ordem:
a) A primeira pessoa tem
preferência em relação às outras.
b) Com a ausência da primeira pessoa, a preferência é da segunda pessoa.
c) Sem a primeira e segunda, o verbo aparece na terceira pessoa.
Exemplos:
a) “Eu e minha mãe frequentamos
a Igreja aos domingos.”
(Nós) frequentamos – o verbo assume a 1ª pessoa.
b) “Tu e o meu pai conhecereis meus filhos.”
(Vós) conhecereis – o verbo assume a 2ª pessoa.
Observação: não é um uso comum da linguagem contemporânea. No
Brasil, com o maior uso de você ao
invés de tu, o verbo concorda, tanto
na língua escrita quanto na língua falada, com a 3ª pessoa do plural. Veja:
“Você e o meu pai conhecerão meus filhos.”
(Vocês/Eles) conhecerão – o verbo assume a 3ª pessoa.
c) “A professora e a diretora foram
muito simpáticas comigo.”
(Elas) foram – o verbo assume a 3ª pessoa.
Outros
casos com sujeito composto:
1) Caso o sujeito apareça depois do verbo, o verbo pode
concordar com o núcleo mais próximo:
“Seria apresentado
um teatro e três números de dança.”
Ou com o verbo concordando com o número de núcleos do
sujeito:
“Seriam apresentados
um teatro e três números de dança.”
2) Caso o sujeito tenha substantivos sinônimos ou quase
sinônimos, o verbo pode aparecer no singular:
“A alegria e a
felicidade dele era visível.”
Com o verbo concordando com o número de núcleos do
sujeito:
“A alegria e a
felicidade dele eram visíveis.”
3) Caso o sujeito seja uma gradação de ideias, o verbo pode
aparecer no singular, concentrando o
sentido apenas no último termo apresentado:
“E entrava a girar em volta de mim, à espreita de um juízo, de uma palavra, de um gesto,
que lhe aprovasse a recente
produção.” (Machado de Assis)
OUTRAS REGRAS
1) Sujeito ligado por
série aditiva enfática: quando os núcleos do
sujeito composto são ligados por “tanto... como”, “tanto... quanto”, “assim... como”,
“não só... mas”, “não só... como”, etc. é comum o verbo ir para o plural.
“Tanto minha mãe como
minha irmã usavam as minhas
roupas.”
“Não só os professores, mas também os alunos, seriam prejudicados.”
Observação: raramente,
o verbo irá para o singular, concordando com o sujeito mais próximo.
“Tanto eu,
quanto meu irmão, perguntava o que havia acontecido.”
2) Sujeito ligado por
“com”: normalmente o verbo é
empregado no plural para concordar com os dois núcleos do sujeito que estão
ligados pela preposição “com”.
“O rei com a rainha estavam acenando para o povo.” – o verbo está no plural.
“A mãe com o filho chegaram em casa” – o verbo está no plural.
Observação: raramente,
caso o segundo núcleo do sujeito seja colocado apenas como um complemento
adverbial de companhia, com o verbo da oração dando ênfase apenas ao primeiro,
o verbo irá para o singular.
“A professora,
com a diretora, entrou na escola” – o
verbo está no singular.
3) Sujeito ligado por
“nem... nem”: quando os núcleos do
sujeito composto são ligados por essa expressão, o verbo geralmente irá para o
plural, mas às vezes pode assumir o singular.
“Nem a Argentina, nem
o Brasil conseguiram abrir os
aeroportos.” – o verbo está no plural.
“Nem a praia, nem
a piscina bastava para o
turista.” – o verbo está no singular.
Observação: no
caso de “nem um... nem outro”, o verbo irá sempre para o singular.
“Nem um nem outro
conseguiu ir trabalhar.”
4) Sujeito ligado por
“ou”: o verbo pode aparecer no
singular ou no plural dependendo do sentido expresso.
a) Quando “ou”
significar alternativa ou exclusão,
o verbo irá concordar com o sujeito mais próximo.
“A menina ou o menino vai ganhar a corrida.” – ambos os substantivos estão no singular e
o verbo também está no singular – só um ganhará a corrida, a ideia é de
exclusão.
“O professor ou os responsáveis pela turma deverão acompanhar os alunos.” – o verbo
está no plural concordando com a ideia de alternativa (tanto um quanto outro).
b) Quando “ou”
significar equivalência, com o verbo
podendo se referir a qualquer um desses sujeitos, o verbo irá concordar com o
sujeito mais próximo.
“O vendedor ou comerciante entende a gravidade da situação.” – o verbo está no singular
concordando com o sujeito mais próximo “comerciante”, já que são duas palavras
sinônimas.
c) Quando “ou”
significar retificação de número
gramatical, o verbo irá concordar com o sujeito mais próximo.
“Um ou dois livros foram vendidos.” – o verbo está no plural concordando com o sujeito
mais próximo “dois livros”.
d) Quando “ou”
significar adição ou o predicado
estiver se referindo a todos os núcleos do sujeito composto, o verbo geralmente
irá para o plural e raramente ficará no singular.
“O calor forte ou frio excessivo eram temperaturas igualmente prejudiciais ao doente.” – o verbo
está no plural porque o predicado está abrangendo o sujeito composto completo,
já que ambos representam.
5) Expressões de
sentido quantitativo acompanhadas de complemento no plural: se o sujeito
da oração é representado por expressões quantitativas como: “a maioria de”, “a
maior parte de”, “grande parte de”, “grande número de”, “grande quantidade de”,
“parte de”, etc. acompanhadas de um nome ou nome de grupo no plural, o verbo
pode ir para o singular ou para o plural.
“A maioria das
mulheres eram felizes” – o verbo
está no plural concordando com o substantivo “mulheres”, que está assumindo a
posição de núcleo do sujeito.
“A maioria dos
homens não sabia da verdade” – o
verbo está no singular concordando com a expressão “a maioria”, que está
assumindo a posição de núcleo do sujeito.
Observação: caso
o núcleo do sujeito não se refira à ideia de quantidade ou caso a ação do verbo
se refira ao coletivo e não aos indivíduos separadamente, o verbo deve ir para
o singular.
“Uma equipe de bombeiros apagou o fogo.” – o verbo está no singular concordando com o núcleo
do sujeito, “equipe”.
“A greve dos professores durou duas semanas.” – o verbo está no singular concordando com o
núcleo do sujeito, “greve”.
6) Sujeito
representado por “cada um de” + plural:
sempre que houver essa expressão, o verbo deverá ficar no singular.
“Cada um de nós pode fazer algo bom.” – verbo no singular (pode).
“Cada uma das crianças precisa de um presente.” – verbo no singular (precisa).
7) O verbo “ser”: assim como qualquer outro verbo, o normal é o verbo
concordar com o sujeito em número e pessoa.
“Eu serei um funcionário mais dedicado.” –
verbo na 1ª pessoa e no singular.
“As meninas são populares.” – verbo na 3ª pessoa e
no plural.
Entretanto, no
caso do verbo ser, a concordância verbal também pode ser feita com o predicativo, principalmente no plural.
Veja quando isso ocorre:
a) Se o sujeito da oração é um dos pronomes isto,
isso, aquilo, tudo, ninguém, nenhum ou uma expressão de valor coletivo como
“o resto”, “o mais”, etc.:
“O resto são mentiras e segredos.” – o
verbo (são) está concordando com o predicativo no plural (mentiras e segredos).
“Aquilo são pessoas fantasiadas?” – o
verbo (são) está concordando com o predicativo no plural (pessoas fantasiadas).
“Eram tudo sonhos adolescentes.” – o
verbo (eram) está concordando com o predicativo no plural (sonhos
adolescentes).
b) Se o sujeito da oração é um dos pronomes interrogativos quem,
que, o que:
“Quem são aquelas pessoas?” – o verbo
(são) está no plural concordando com o predicativo no plural (aquelas pessoas).
“O que eram discos de vinil?” – o verbo
(eram) está no plural concordando com o predicativo no plural (discos de vinil).
c) Se o verbo ser possuir sentido de “ser feito de” ou de “ser constituído de”:
“O barraco eram algumas madeiras e telhas.”
– o verbo (eram) está no plural concordando com o predicativo no plural
(algumas madeiras e telhas).
d) Se o verbo ser for empregado impessoalmente
(sem sujeito) para designar horas, datas ou distâncias:
“Já são dez horas.” – o verbo
está no plural.
“Ainda é uma hora.” – o verbo está
no singular.
“São 25 de julho.” – o verbo
está concordando com o número.
“Hoje é dia 25 de julho.” – o
verbo está concordando com a palavra “dia”.
“É um metro de distância.” –
o verbo está no singular.
“São 30 quilômetros de estrada.”
– o verbo está no plural.
Observação: a
concordância pode ser feita tanto no
singular quanto no plural quando
houver uma expressão como “perto de”
ou “cerca de” antes do predicativo
no plural. Veja:
“Eram cerca de onze horas quando
cheguei.” – o verbo está no plural concordando com “onze horas”.
“Era perto de onze horas quando
cheguei.” – o verbo está no singular concordando com “perto”.
e) Se o verbo ser for empregado dentro de
expressões como é muito, é pouco, é bom, é demais, é mais de, é tanto e o
sujeito for um termo no plural que indique peso,
medida ou quantidade, o verbo irá concordar com o predicativo e ficará no
singular:
“Mil reais é muito.”
“Quinze anos é demais.”
f) Se o verbo ser estiver entre dois substantivos,
ele geralmente concordará com o plural, mas também pode concordar com o termo
que tiver mais relevância na frase:
“Justiça é as virtudes todas.”
“A comunidade são todos.”
Atenção: veja casos em que o
verbo ser concorda com o sujeito:
a) Se o sujeito for um nome
de pessoa ou um pronome pessoal,
o verbo concorda com o sujeito, não importando o número do predicativo:
“Ela era as preocupações do pai.”
“Alice era todas as belezas do mundo.”
b) Se o verbo ser aparecer no início de narrações
como “era uma vez”, ele estará sendo usado como um verbo intransitivo com o
sentido de “existir”, dessa maneira, irá concordar com o substantivo que o
acompanhar, que é considerado o sujeito da oração:
“Era uma princesa...”
“Eram três mosqueteiros...”
Observação: como
a construção “era um vez” é muito presente e enraizada na língua, isso faz com
que frases como “era uma vez duas princesas” sejam usadas, mesmo que o sujeito
seja termo no plural.
Atenção: veja casos em que o
verbo ser é invariável:
a) A expressão “é
que”, usada geralmente para reforçar o que está sendo dito, é invariável e o verbo da oração se
flexiona normalmente:
“Nós é que vamos ao parque.”
“Esses livros é que não leremos por enquanto.”
Observação: o
verbo “ser” e a partícula “que” ainda podem aparecer em uma oração separados, com o verbo “ser” no plural acompanhado de
um termo no plural, mas a gramática normativa não aprova esse tipo de
construção, como:
“Foram nesses livros que estavam as respostas.”
A construção indicada pela gramática normativa para essa
frase seria:
“Nesses livros foi que estavam as respostas.” – em
que o verbo (foi) está no singular.
b) Se houver expressões como “é de ver” ou “é de reparar”
com sentido de “é coisa para ver” e “é coisa para reparar”, o verbo ficará no singular, mesmo seguido de substantivo
no plural:
“É de reparar as brigas dos
vizinhos.”
Observação: caso tenha um nome no plural antes do verbo, o verbo ficará no plural concordando
com esse nome.
“As paisagens eram
de ver.”
8) Expressão “mais de
um”: após a expressão, o verbo é
geralmente empregado no singular, concordando com o substantivo.
“Mais de um aluno gabaritou a prova.” – o verbo “gabaritou” está no singular,
concordando com o substantivo “aluno”.
Observação: caso
a expressão “mais de um” apresente ideia de reciprocidade, apareça repetida ou
acompanhada de complemento no plural, o verbo irá para o plural.
“Mais de um carro, mais de um caminhão, foram assaltados na estrada.” –
expressão “mais de um” repetida.
“Mais de uma dançarina se agrediram” – expressão
com significado de ação recíproca.
“Mais de um milhão de pessoas pegaram a doença.” – substantivo “milhão” acompanhado de
complemento no plural, “de pessoas”.
9) Sujeito
representado por quais, quantos, alguns, muitos, poucos, vários + de nós, de vós, dentre nós, dentre vós: quando o sujeito é representado por essa construção, o
verbo fica na 3ª pessoa do plural ou concorda com a expressão partitiva
introduzida por “de” ou “dentre” (“nós” ou “vós”).
“Quais de nós gostam de ir à praia?” – o verbo está no
plural concordando com “quais”.
“Quais de nós gostamos de ir à praia?” – o verbo está
no plural concordando com “nós”.
Observação: caso
a expressão esteja no singular, o verbo também irá para o singular.
“Qual de
nós foi o melhor dançarino?” – o
verbo está na 3ª pessoa do singular concordando com o pronome interrogativo,
nesse caso é impossível o verbo aparecer no plural.
10) A concordância
com pronomes relativos:
a) Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “que” e ele vier após um pronome demonstrativo, o verbo
da oração adjetiva irá para a 3ª pessoa e concordará em número com o
antecedente ao pronome.
“Aquele que
planeja alcança mais objetivos.” – no singular.
“Aqueles que
planejam alcançam mais objetivos.” – no plural.
b) Se o sujeito da oração é o pronome relativo “que”, o verbo irá concordar com o
antecedente ao pronome, desde que o que vier antes do pronome não funcione
como predicativo de outra oração.
“Foram eles que compraram os sorvetes.” – o verbo
“comprar” ficou no plural concordando com o pronome “eles”.
c) Se o que antecede o pronome relativo funciona como
predicativo de outra oração, o verbo da oração adjetiva pode concordar com
o sujeito da oração principal ou assumir a 3ª pessoa:
“Sou eu o
primeiro que não sei andar de
bicicleta.” – concordando com o sujeito da oração principal.
“Sou eu o
primeiro que não sabe andar de
bicicleta.” – com o verbo na 3ª pessoa.
d) Quando houver expressões como “sou eu que”, “fomos nós
que”, etc. o verbo irá concordar com o sujeito do verbo ser.
Veja:
“Sou eu que cuido
dos animais.” = eu cuido – 1ª pessoa do singular.
“Fomos nós que viajamos
para Dubai.” = nós viajamos – 1ª pessoa do plural.
e) Quando houver o pronome “quem”, o verbo da oração subordinada fica na 3ª pessoa do singular,
havendo a possibilidade também de concordar com o que antecede o pronome:
1. “Fui eu quem
comprou a comida.” – o verbo está na
3ª pessoa do singular.
2. “Fui eu quem
comprei a comida.” – o verbo está
concordando com o pronome “eu” que antecede o pronome “quem”, assumindo a 1ª
pessoa do singular
Observação:
com a predominância do uso de “que” no
lugar de “quem”, está tornando-se cada vez mais raro encontrar a segunda
construção, sendo substituída por “fui eu que
comprei a comida”.
f) Quando houver a expressão “um dos... que”, o verbo pode ficar no singular concordando com
“um”, ou pode ir para o plural, concordando com o substantivo no plural que
está no meio da expressão e serve como sujeito da oração. A flexão do verbo no
plural é a mais comum e a mais indicada pela gramática normativa:
“Um dos atores que mais protagonizam filmes daquela produtora.” – o verbo está no plural
concordando com o substantivo no plural “atores”.
Observação: caso
a ação do verbo seja específica ao “um” da oração, o verbo deve ficar no
singular. Veja:
“Foi um dos seus
irmãos que namorou comigo.”
11) Verbos impessoais: quando o verbo é empregado sem sujeito, ele assume a 3ª
pessoa do singular.
Verbo flexionado segundo a gramática normativa |
Forma não aceita pela gramática
normativa |
“Deve haver muitos alunos na escola.” |
“Devem haver muitos alunos na escola.” |
“Trata-se de muitas vítimas.” |
“Tratam-se de muitas vítimas.” |
“Já passa das onze horas.” |
“Já passam das onze horas.” |
Veja exemplos dos principais verbos impessoais no
português:
a) Que representam fenômenos da natureza, com sentido
próprio: chover, amanhecer, anoitecer, gear, nevar, etc.: (esses verbos podem
não ser impessoais quando são usados com outro significado, como na oração “eles
amanheceram felizes”).
b) Verbo “fazer” com sentido de tempo passado ou
significando fenômenos astronômicos: “faz
três meses que o acidente aconteceu”, “faz
frio esta manhã”.
c) Verbo “haver” acompanhado de objeto direto: “há cinco prédios no meu bairro”, “se eu
me apresentasse, haveria aplausos”.
12) Quando os verbos
“dar”, “bater”, “soar” e sinônimos se referem a horas: em orações desse tipo, o sujeito pode assumir duas
formas:
a) Quando o sujeito for o substantivo “relógio”, o verbo
irá concordar com ele:
“O relógio bateu dez horas.” – o verbo está no
singular concordando com o sujeito.
b) Se não ocorrer o caso acima, o sujeito da oração será o
número que indica as horas e o verbo deverá concordar com ele:
“Soaram cinco horas.”
“No relógio, deram
seis horas.” – nesse caso relógio
assume função de adjunto adverbial de lugar.
13) Voz passiva com a
partícula “se”: o verbo acompanhado
da partícula “se”, seguido de substantivo no plural, deve concordar com o
substantivo, que é o sujeito da oração. Normalmente, esse sujeito aparece
depois do verbo e sofre a ação verbal, sendo identificada a voz passiva.
“Alugam-se casas.”
– “casas” é o sujeito e o verbo “alugar” deve aparecer no plural, concordando
com o substantivo.
“Vendem-se sorvetes.”
– “sorvetes” é o sujeito e o verbo “vender” deve aparecer no plural,
concordando com o substantivo.
Observação: em
alguns casos, o substantivo no plural não é o sujeito, pois a oração deixa
indeterminado quem pratica a ação verbal, dessa forma, o verbo será empregado
no singular. Veja:
·
Se houver uma preposição entre o verbo e o
substantivo no plural: “Precisa-se de
vendedores”.
·
Se o verbo for
intransitivo: “Caminha-se rápido nos dias de hoje”.
14) Locução verbal: a união de dois ou mais verbos pode ser considerada ou
não uma locução verbal. Estas duas construções são possíveis no português:
1. “Deve-se
consertar os carros.” – com o verbo no singular.
2. “Devem-se
consertar os carros.” – com o verbo no plural.
1. Nesse caso, os verbos não são considerados uma locução
verbal. Deve-se é o verbo
principal da oração, reproduzido na voz passiva, enquanto o sujeito é a oração reduzida do
infinitivo “consertar os carros”. As
orações como sujeito são equivalentes a um substantivo no singular, portanto o
verbo “deve-se” se flexiona no singular.
2. Nesse caso, o conjunto de verbos são considerados uma
locução verbal. Dever é o verbo auxiliar da oração e consertar-se é o verbo
principal, reproduzido na voz passiva, enquanto o sujeito é “os carros”. Quando houver locução
verbal na oração, o verbo auxiliar deverá concordar com o sujeito em número e
pessoa, desse modo, o verbo dever concorda com o sujeito “os
carros”, com a oração sendo equivalente a “os carros devem ser consertados.”
Locução verbal: “Os computadores parecem funcionar.”
Com “parece”
sendo o verbo principal da oração e não considerando a existência de uma
locução verbal: “Os computadores parece funcionarem.” = “Parece funcionarem os
computadores.”
Atenção: a
construção “parecem funcionarem” não é adequada, segundo a gramática normativa,
sendo considerada uma contaminação sintática das duas possibilidades aceitas.
Observação:
Os verbos poder e dever
acompanhados de um verbo no infinitivo
geralmente são considerados como parte de uma locução verbal, dessa forma, eles
concordam com o sujeito, no singular ou no plural, mas a construção “verbo no
singular + sujeito no plural” também é aceita.
“Podem-se
contar essas histórias.”
“Devem-se fazer
essas atividades.”
Exceção: quando o sujeito da oração estiver explícito, não se
pode ser feita a escolha livre entre as duas formas de concordância mostradas,
veja:
Correta:
“Quer-se inverter as leis.”
Errada: “Querem-se
inverter as leis.”
Note que o sujeito é “inverter (as leis)”, porque não faz
sentido a construção “as leis querem ser invertidas.”, por esse motivo o verbo quer
deve permanecer no singular.
15) Expressão “não...
senão” e equivalentes: quando houver
expressões como “não... senão”, “nunca... senão”, “não... mais que”, “nunca...
mais que”, “não... mais do que”, “nunca... mais do que”, etc. o verbo que
estiver no meio da expressão deverá concordar com o sujeito.
“Não se viam mais do que criminosos.”
“Não me couberam mais que alegrias na vida.”
Observação: quando
se tratar da 1ª ou 2ª pessoa, a concordância não obedece essa regra.
“Ninguém votou contra o projeto senão nós três.”
“Não haveria outro culpado senão tu.”
16) Aposto: quando houver, após o sujeito composto, um aposto
representado por expressões como “cada um” ou “cada qual” e em seguida um
verbo, o verbo deverá concordar com o aposto.
“José e Maria cada qual fazia seu trabalho.” – o verbo ficou no
singular concordando com a expressão “cada qual”.
Observação: se
o verbo vier antes das expressões, a concordância será com o sujeito composto
ou com o termo no plural, dessa forma, o verbo ficará no plural.
“Elas faziam cada uma a sua fantasia.” – o
verbo está no plural concordando com o pronome “elas”.
Outro caso: se o sujeito aparecer ampliado por um aposto, o verbo
concorda com o sujeito.
“Muitas aulas,
a maioria
talvez, são práticas.” – o
verbo no plural (são) está concordando com o substantivo no plural “aulas”.
17) Expressão “haja
vista”: essa expressão pode ter
diferentes concordâncias.
a) Se considerar o verbo invariável, com sentido de “veja”,
ele ficará no singular independentemente do número do substantivo.
“Haja vista o
acidente na rua.”
“Haja vista as
lições do seu filho.”
b) Considerando o substantivo como o sujeito da oração, o
verbo pode assumir o plural se esse sujeito estiver no plural.
“Hajam vista as
lojas da avenida.”
c) Se entre a expressão e o substantivo houver a preposição
“de” ou “a”, o verbo deve ficar no singular.
“Haja vista aos processos trabalhistas.”
“Haja vista dos temas que eles escrevem.”
Observação: a
gramática normativa não admite a construção “haja visto”, que tem influência
das expressões “visto que” e “visto como”. Com isso, “haja visto o ocorrido” deve ser “haja vista o ocorrido”.
18) Sujeito
oracional: quando o sujeito é
representado por uma oração ou por orações coordenadas, o verbo deve ficar no
singular.
“Parece que gosta de mim.”
“Conhecer a
história e entender o passado é
fundamental para o povo.”
19) Expressões de
porcentagem: quando o sujeito for
formado por uma expressão numérica de porcentagem, geralmente, o verbo irá
concordar com o substantivo que vier preposicionado após a expressão.
“Treze por cento da população nordestina é analfabeta.” – o
verbo ficou no singular em razão do substantivo no singular “população”.
“Quarenta e oito
por cento dos brasileiros com mais de vinte e cinco
anos concluíram o ensino médio.” – o verbo ficou no plural em razão do
substantivo no plural “brasileiros”.
Observação: a concordância também
pode ser feita com o número da porcentagem, nos seguintes casos:
a) Se o substantivo preposicionado não aparecer na oração:
“1% não respondeu a
pesquisa.”
“30% não gostaram das
mudanças.”
b) Se houver artigo ou pronome antes da porcentagem:
“Os 50% do serviço foram
pagos.”
c) Se o verbo aparecer antes da porcentagem ou o
substantivo preposicionado estiver deslocado:
“Foram contratados 40% da
lista de candidatos.”
“Dos
bolos fabricados, apenas 1% não
foi vendido.”
20) “Vivam os
campeões!”: expressões como “Viva!” e “Morra!” devem concordar com o sujeito. Embora a língua moderna
tenha o costume de usar o verbo no singular independentemente do substantivo
estar no singular ou não, como em “Viva os campeões!”, a gramática normativa pede que
o verbo esteja no plural em construções desse tipo, como em “Vivam os campeões!”.
Observação: uma grande influência dessa tendência de
colocar o verbo sempre no singular provavelmente vem da expressão “Salve!”, que
é uma interjeição e invariável. Portanto “Salve a
rainha!” e “Salve os
campeões!” estão corretos, pois o substantivo no singular ou no plural não altera
a construção.
21) Expressão “a não
ser”: quando houver essa
expressão, o verbo deve concordar com o sujeito, podendo ficar no singular ou
no plural.
“Todos os restaurantes da rua fecharam, a não ser
o mais famoso.”
“Ninguém acreditou nele, a não serem os seus
amigos.”
22) Expressões “perto
de”, “cerca de”, “mais de”, “menos de” e equivalentes: quando o sujeito está acompanhado de expressões que
indicam quantidade aproximada, o verbo irá concordar com o sujeito.
“Cerca de
cinco mil pessoas foram ao show.” – no plural.
“Apodreceu mais de
uma tonelada de carne.” – no singular.
23) Expressão “que
dirá”: quando a oração apresenta
essa expressão, o verbo será invariável em número e pessoa.
“Se você não sabe, que
dirá eu.”
“Se você não sabe, que
dirá nós.”
REFERÊNCIAS:
BECHARA, Evanildo. Lições
de Português pela análise sintática. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2018.
BECHARA, Evanildo. Moderna
Gramática Portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
LIMA, Rocha. Gramática
Normativa da Língua Portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
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