Literatura na sala de aula: uma proposta


Uma das grandes dúvidas do futuro professor de Língua Portuguesa é: como trabalhar com a literatura de forma significativa dentro da sala de aula? Como fazer os alunos se interessarem pela leitura proposta? Afinal, é uma responsabilidade muito grande essa de formar um aluno-leitor. Não basta picotar o texto, mostrando-os somente trechos, ou então ler para as paredes da sala: é necessária uma estratégia, um envolvimento significativo da comunidade escolar. E é justamente sobre isso que falaremos aqui. 

Rildo Cosson, mestre em Teoria da Literatura, expõe em seu livro “Letramento literário: teoria e prática” uma interessante estratégia para o ensino de literatura, a sequência básica, que consiste em quatro passos: motivação, introdução, leitura e interpretação. 

Motivação: 

A motivação é o momento de convidar o aluno a embarcar na leitura planejada pelo professor de forma lúdica, com atividades que desemboquem no texto proposto, seja por meio do tema, do gênero literário ou de qualquer outro aspecto que de fato os motive. É importante, nesse momento, fazê-los encontrar a atualidade do texto trabalhado, a sua pertinência em suas vidas. 

Suponhamos que seu interesse seja a leitura de um conto de Philip K. Dick, um dos mais renomados escritores de ficção científica no mundo. Uma aproximação temática possível é propor aos alunos uma conversa sobre como eles imaginam o mundo no ano 3000; depois, escrever em pedaços de papel um breve parágrafo sobre a situação mundial atual, recolhê-los e enterrá-los em algum lugar da escola. Uma cápsula do tempo, por que não? 

São inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas nesta etapa; tudo depende da criatividade com que nós, futuros professores, a trabalharmos. Vale apontar ainda que a motivação não pode passar de UMA aula, caso contrário, perde-se o foco no que realmente interessa: a leitura da obra proposta. 

Introdução: 

Na introdução não há muito segredo: é a parte em que se apresenta o autor e a obra. Destaque-se que não é interessante despender muito tempo da aula expositiva tratando dos pormenores biográficos do autor, ou então falando sobre aspectos que interessam somente a pesquisadores. Cosson, sistematizador dessa teoria, ressalta que não devemos tentar resgatar a intenção do autor ao escrever determinada obra, mas trabalhar aquilo que está contido nela. 

Caso se trate de um livro, é fundamental que o aluno tenha contato físico com ele, que possa pegá-lo, folheá-lo e ler as informações da capa e da contracapa. Podemos até mesmo desenvolver uma atividade com o prefácio. 

Leitura: 

Então chegamos ao grande momento. Aqui não devemos vigiar ou inspecionar o aluno, mas acompanhar sua leitura para auxiliá-lo nas dificuldades. Para isso, caso esteja-se lendo um livro, é preciso negociar o tempo, a fim de que não seja nem muito longo nem muito curto, e fazer intervalos. Esses intervalos são os momentos em que verificaremos o andamento da leitura, auxiliando-os com vocabulário, perguntando-lhes o que estão achando – se é legal, por que é legal? Se é chato, por que é chato? –, que reflexões a obra lhes propiciou e apresentando-lhes um material para auxiliar na leitura, como músicas, poemas e imagens. 

Um interessante exemplo apresentado no livro é, em um dos intervalos da leitura de “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, realizar a leitura e audição da canção “Saudosa maloca”, de Adoniran Barbosa, com o intuito de propiciar uma discussão sobre a moradia no Brasil e suas condições. No segundo intervalo, realizar a leitura do conto “A cartomante”, de Lima Barreto, que trata das dificuldades de um homem pobre, e então pedir aos alunos que identifiquem dentre as personagens de “O cortiço” uma que se assemelhe ao protagonista de “A cartomante”. 

Interpretação: 

Na interpretação há um momento interior e outro exterior. No interior, ocorre o encontro obra-leitor, a decodificação do texto palavra por palavra, capítulo por capítulo. É quando encontramos sentido naquilo que lemos. Há inúmeras atividades interessantes a serem realizadas aí, desde a mais formal, como uma resenha crítica sobre a leitura proposta, à mais íntima, como um depoimento sobre o que o aluno gostou e o que não gostou, a fim de, depois, em duplas, entrevistar o colega para saber a sua opinião e, posteriormente, escrever um texto sobre em que a leitura de ambos divergiu ou convergiu. 

O momento exterior é quando materializamos a interpretação feita a fim de construir sentido em uma determinada comunidade. Pode-se organizar uma feira literária mostrando intertextualidades que os alunos encontraram, por exemplo. 

Por fim, vale pontuar que a sequência básica não é um modelo a ser seguido, mas um exemplo do que pode ser feito. Ela pode ser ampliada, modificada ou adaptada, pois cada turma é única. O mais importante é se atentar para um ensino significativo em que a leitura seja o centro, e não apenas um artifício periférico. 



Referência: COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2ªed. São Paulo: Contexto, 2009. 




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