ATIVIDADE LÚDICA
ATIVIDADE
LÚDICA - 3
|
PROPOSTA
|
Desenvolvimento
de improvisações cênicas a partir de fragmentos de texto teatral.
|
TEXTO
UTILIZADO
|
Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna.
|
MATERIAL
NECESSÁRIO
|
Texto.
|
DESCRIÇÃO DA
ATIVIDADE
|
Em
uma classe formada por trinta alunos, a turma poderá ser dividida em cinco
grupos de seis pessoas, de forma que cada equipe deverá trabalhar com uma
cena diferente. Após receberem as cenas da obra Auto da Compadecida, os integrantes
poderão discutir e explorar as possibilidades de interpretação dos trechos a
fim de elaborar a improvisação ao final da atividade.
Os
grupos serão orientados a seguir diferentes direcionamentos a partir dos
excertos recebidos, como abordagem da ideia central, adaptação de diálogos,
improvisação fiel ao texto e contextualização do trecho (acréscimo de
acontecimentos anteriores e posteriores).
É
importante, após o término do exercício, que o professor contextualize os
recortes improvisados e incentive a leitura completa da obra para que os
alunos consigam perceber como as cenas trabalhadas isoladamente estão
colocadas na obra em si.
|
JUSTIFICATIVA
|
A
atividade voltada a recortes da obra procura instigar o discente a adicionar
novos significados ao texto por meio do improviso, uma vez que será possível
explorar as diferentes possibilidades oferecidas, desenvolvendo a cena
através das experiências e visões de mundo do aluno.
Espera-se,
após a aplicação da atividade, promover o desenvolvimento tanto individual
(criatividade, raciocínio e desenvoltura) quanto coletivo dos participantes
(trabalho em equipe – convívio e cooperação).
|
Referência bibliográfica:
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida.
Rio de Janeiro: Agir, 1999.
GRUPO 1 (p. 101-105) – sugestão: improvisação fiel ao texto
*Os alunos terão de seguir as
indicações do autor, improvisando sobre o que está escrito.
PADEIRO:
Ah,
você está aí? (Pega João pela camisa.) O gato não descome dinheiro coisa
nenhuma, descome o que todo gato descome. Mas você me paga!
JOÃO
GRILO: Que é isso? Que é isso? O senhor não tem vergonha de
dizer essas coisas diante do bispo? Descome, não descome! Que conversa mais
imoral! Que chamego é esse?
PADEIRO:
(furioso.)
Imoral é você, vendendo aquele gato!
JOÃO
GRILO: E eu tenho culpa de sua mulher só gostar de bicho?
PADEIRO:
Só
gostar de bicho não, que ela casou comigo.
JOÃO
GRILO: Sua diferença para bicho é muito pouca, padeiro.
PADEIRO:
O
quê? É assim que você me trata agora? Olhe que eu boto você para fora da
padaria!
JOÃO
GRILO: Você não bota coisa nenhuma, porque eu já estou fora
dela. Faz exatamente dez minutos que eu me considero demitido daquela porcaria.
Um sujeito como eu não trabalha para uma mulher que compra gato.
PADEIRO:
Ladrão!
Ladrão!
JOÃO
GRILO: Ladrão é você, presidente da irmandade. Três dias
passei em cima de uma cama, tremendo de febre. Mandava pedir socorro a ela e a
você e nada. Até o padre que mandei pedir para me confessar não mandaram. E
isso depois de passar seis anos trabalhando naquela desgraça!
PADEIRO:
Ingrato,
eu que nunca o despedi, apesar de todas as suas trapaças!
JOÃO
GRILO: Nunca me despediu porque eu trabalhava barato e bem.
Está aí o Padre João que o diga: qual era o melhor pão da rua, Padre João?
PADRE:
O
pão de João Grilo.
JOÃO
GRILO: Está vendo? Ladrão é você, ladrão de farinha. Eu o
que faço é me defender como posso.
BISPO:
Afinal
que barulhada é essa?
PADEIRO:
Foi
esse ladrão que vendeu um gato à minha mulher, dizendo que ele botava dinheiro,
Senhor Bispo.
FRADE:
Ra,
ra! Essa foi boa!
PADEIRO:
Boa?
E é um frade que vem me dizer isso? É o fim do mundo.
BISPO:
Não
se incomode, trata-se de um débil mental.
PADEIRO:
Faço
minha queixa ao Senhor Bispo, na qualidade de presidente da Irmandade das
Almas.
BISPO:
Está
recebida a queixa e vai ser apurado o fato, para denúncia à autoridade secular.
JOÃO
GRILO: Não vai ser apurada coisa nenhuma, por que agora eu
vou-me embora daqui. E sabem do que mais? Vão-se danar todos, sacristão,
padeiro, padre, bispo, porque eu já estou cheio, sabem?
SACRISTÃO:
João
Grilo!
PADRE:
João
Grilo!
BISPO:
Senhor
João Grilo!
JOÃO
GRILO: É isso mesmo e façam o favor de não me irritar se
não eu dou um tiro na cabeça de Chicó!
CHICÓ:
Na
minha? Dê na da sua mãe, que pelo menos nasceu você.
(Fora, som de
tiros e gritos de socorro)
PADRE:
Meu
Deus, que terá sido isso?
BISPO:
O
barulho era de tiro.
GRUPO 2 (p. 117-118) - sugestão: contextualização da cena.
*Acréscimo de
acontecimentos anteriores, como a chegada de Severino à igreja, e posteriores,
como a morte das personagens.
SEVERINO:
E
chega agora a vez do excelentíssimo senhor padeiro desta cidade de Taperoá, que
terá a subida satisfação de morrer ao lado de sua excelentíssima mulher safada.
PADEIRO:
Antes
de morrer, tenho um pedido a fazer.
SEVERINO:
Ai,
ai, ai! O que é?
PADEIRO:
Quero
que ela morra primeiro, para eu ver.
SEVERINO:
Concedido.
Mate a mulher primeiro.
MULHER:
Ah
desgraçado!
PADEIRO
Desgraçada
é você que me desgraçava a testa sem eu saber. E se ao menos fosse com uma
pessoa de respeito! Mas até Chicó.
CHICÓ:
Até
Chicó o quê? Eu fui que corri o perigo de ficar falado, andando com essa mulher
pra cima e pra baixo.
PADEIRO:
Eu
não digo! Você me desgraçou. Caminhe na frente! Faço questão de ver essa
desgraça morrer!
MULHER:
E
então? Pensa que vou fazer cara feia? Está muito enganado, tenho mais coragem
do que muito homem safado. Você, sim, está aí em tempo de se acabar. Pensa que
não vi as pernas de sua calça tremendo, desde que ele entrou? Frouxo safado,
não lhe dou o gosto de me queixar de jeito nenhum. (Ao Cangaceiro.) Está
pronto?
CANGACEIRO:
Estou.
MULHER:
Pois
vamos. (Sai firmemente, acompanhada pelo marido, que cambaleia.) Eu não disse?
Segure aqui, que eu ajudo.
O padeiro se apoia na mulher e saem
os dois abraçados.
GRUPO 3 (p. 136-139) – sugestão: improvisação baseada na
adaptação de diálogos.
*O grupo poderá adaptar os diálogos
para uma situação diferente daquela retratada na cena.
Começará aqui a
cena do julgamento, com o pano abrindo e os mortos despertando.
JOÃO
GRILO: (para o Cangaceiro.) Mas me diga uma coisa, havia
necessidade de você me matar?
CANGACEIRO:
E
você me matou?
JOÃO
GRILO: Pois é por isso mesmo que eu reclamei. Você já
estava desgraçado, podia ter-me deixado em paz.
SEVERINO:
Eu,
por mim, agora que já morri, estou achando até bom. Pelo menos estou
descansando daquelas correrias. Quem deve estar achando ruim é o bispo.
BISPO:
Eu?
Por quê? Estou até me dando bem!
JOÃO
GRILO: É, estão todos muito calmos porque ainda não
repararam naquele freguês que está ali, na sombra, esperando que nós acordemos.
PADRE:
Quem
é?
JOÃO
GRILO: Você ainda pergunta? Desde que cheguei que comecei a
sentir um cheiro ruim danado. Essa peste deve ser um diabo.
DEMÔNIO:
(saindo
da sombra, severo.) Calem-se todos. Chegou a hora da verdade.
SEVERINO:
Da
verdade?
BISPO:
Da
verdade?
PADRE:
Da
verdade?
DEMÔNIO:
Da
verdade, sim.
JOÃO
GRILO: Então já sei que estou desgraçado, porque comigo era
na mentira.
DEMÔNIO:
Vocês
agora vão pagar tudo o que fizeram.
PADRE:
Mas
o que foi que eu...
DEMÓNIO:
Silêncio!
Chegou a hora do silêncio para vocês e do comando para mim. E calem-se todos.
Vem chegando agora quem pode mais do que eu e do que vocês. Deitem-se! Deitem-se!
Ouçam o que estou dizendo, senão será pior!
GRUPO 4 (p. 139-145) – sugestão: improvisação baseada na ideia
central da cena.
*No caso do
trecho selecionado, pode-se interpretar a ideia central da seguinte forma:
todos os mortos estão condenados pelo Encourado a serem levados ao inferno, mas
apelam à justiça divina.
DEMÔNIO:
Desculpe,
fiz tudo para que eles se deitassem, mas não houve jeito
ENCOURADO:
(ríspido.)
Cale-se. Você nunca passará de um imbecil. Como se eu vivesse fazendo questão
de ser recebido dessa ou daquela maneira!
DEMÔNIO:
Peço-lhe
desculpas, não foi isso que eu quis dizer.
ENCOURADO:
Foi
exatamente isso que você quis dizer. É terrível ter-se um sonho como o que eu
tive e ver que ele vai ancorar nesse embrutecimento da inteligência e da
dignidade!
DEMÔNIO:
Isso
pode acontecer comigo. Eu posso me sentir assim, mas o senhor...
ENCOURADO:
Cale-se,
já disse! Que me importa o que você faz ou sente? O que me desgosta é ver minha
imagem refletida em você, uma imagem profundamente repugnante. Mas vamos aos
fatos. Que vergonha! Todos tremendo! Tão corajosos antes, tão covardes agora! O
Senhor Bispo, tão cheio de dignidade, o padre, o valente Severino... E você, o
Grilo que enganava todo o mundo, tremendo como qualquer safado!
JOÃO
GRILO: Que é que posso fazer? Já disse mais de cem vezes a
mim que não tremesse e tremo. Desde que ouvi aquelas pancadas que comecei a
sentir um calafrio danado.
ENCOURADO:
E
tem razão, porque o que vai lhe acontecer é coisa muito séria. (Sorrindo.) É
engraçado como vocês empregam às vezes a palavra exata, sem terem consciência
perfeita do fato. O que você sentiu foi exatamente um arrepio de danado.
(Severo, ao Demônio.) Leve a todos para dentro.
SEVERINO:
Ai meu Deus, vou pagar minhas mortes no inferno!
BISPO:
Senhor
demônio tenha compaixão de um pobre Bispo.
ENCOURADO:
Ah,
compaixão... Como pilhéria é boa! Vamos, todos para dentro. Para dentro, já
disse. Todos para o fogo eterno, para padecer comigo. O Demônio começa a
perseguir os mortos e o alarido deles é terrível. Ele vai agarrando um por um e
os mortos vão se desvencilhando, aos gritos.
BISPO:
Ai!
Leve o Padre!
PADRE:
Ai!
Leve o sacristão!
SACRISTÃO:
Ai!
Leve o Severino!
SEVERINO:
Ai!
Leve o cabra!
JOÃO
GRILO: Parem, parem! Acabem com essa molecagem! (Seu grito
é tão grande que todos param e o silêncio se faz).
JOÃO
GRILO: Acabem com essa molecagem. Diabo dum barulho danado!
É assim, é? É assim, é?
ENCOURADO:
Assim
como?
JOÃO
GRILO: É assim de vez? É só dizer “pra dentro” e vai tudo?
Que diabo de tribunal é esse que não tem apelação?
ENCOURADO:
É
assim mesmo e não tem para onde fugir!
JOÃO
GRILO: Sai daí, pai da mentira! Sempre ouvi dizer que para
se condenar uma pessoa ela tem de ser ouvida!
BISPO:
Eu
também. Boa, João Grilo!
PADRE:
Boa,
João Grilo!
MULHER:
Boa,
João Grilo!
PADEIRO:
Você
achou boa?
MULHER:
Achei.
PADEIRO:
Então
eu também achei. Boa, João Grilo!
SEVERINO:
É
isso mesmo e eu vou apelar para Nosso Senhor Jesus Cristo, que é quem pode
saber.
ENCOURADO:
Besteira,
maluquice!
PADRE:
Besteira
ou maluquice, eu também apelo. Senhor Jesus, certo ou errado, eu sou um padre e
tenho meus direitos. Quero ser julgado, antes de ser entregue ao diabo.
(Aqui começam a
soar pancadas de sino, no mesmo ritmo das de tambor anteriores. O Encourado
começa a ficar agitado).
JOÃO
GRILO: Ah! Pancadinhas benditas! Oi, está tremendo? Que
vergonha, tão corajoso antes, tão covarde agora! Que agitação é essa?
ENCOURADO:
Quem
está agitado? É somente uma questão de inimizade. Tenho o direito de me sentir
mal com aquilo que me desagrada.
JOÃO
GRILO: Eu, pelo contrário, estou me sentindo muito bem.
Sinto-me como se minha alma quisesse cantar.
BISPO:
(estranhamente
emocionado). Eu também. É estranho, nunca tinha experimentado um sentimento
como esse. Mas é uma vontade esquisita, pois não sei bem se ela é de cantar ou
de chorar. Esconde o rosto entre as mãos.
As pancadas do sino continuam e
toca uma música de aleluia. De repente, João ajoelha-se, como que levado por
uma força irresistível e fica com os olhos fixos fora. Todos vão-se ajoelhando
vagarosamente. O Encourado volta rapidamente as costas, para não ver o Cristo
que vem entrando.
GRUPO 5 (p. 182-185) – sugestão: improvisação a partir das
personagens apresentadas na cena.
*Improvisação
com base nas indicações de personagens do trecho: Manuel, João Grilo, Encourado
e Compadecida.
MANUEL:
E
agora, nós, João Grilo. Por que sugeriu o negócio para os outros e ficou de
fora?
JOÃO
GRILO: Porque, modéstia à parte, acho que meu caso é de
salvação direta. ENCOURADO: Era o
que faltava! E a história que estava preparada para a mulher do padeiro?
MANUEL:
É,
João, aquilo foi grave.
JOÃO
GRILO: E o senhor vai dar uma satisfação a esse sujeito, me
desgraçando para o resto da vida? Valha-me Nossa Senhora, mãe de Deus de
Nazaré, já fui menino, fui homem...
A
COMPADECIDA: (sorrindo) Só lhe falta ser mulher, João,
já sei. Vou ver o que posso fazer. (A Manuel.) Lembre-se de que João estava se
preparando para morrer quando o padre o interrompeu.
ENCOURADO:
É,
e apesar de todo o aperreio, ele ainda chamou o padre de cachorro bento.
A
COMPADECIDA: João foi um pobre como nós, meu filho.
Teve de suportar as maiores dificuldades, numa terra seca e pobre como a nossa.
Não o condene, deixe João ir para o purgatório.
JOÃO
GRILO: Para o purgatório? Não, não faça isso assim não.
(Chamando a Compadecida à parte.) Não repare eu dizer isso, mas é que o diabo é
muito negociante e com esse povo a gente pede o mais para impressionar. A
senhora pede o céu, porque aí o acordo fica mais fácil a respeito do
purgatório.
A
COMPADECIDA: Isso dá certo lá no sertão, João! Aqui
se passa tudo de outro jeito! Que é isso? Não confia mais na sua advogada?
JOÃO GRILO: Confio, Nossa
Senhora, mas esse camarada enrolando nós dois.
A
COMPADECIDA: Deixe comigo. (A Manuel.) Peço-lhe então, muito simplesmente,
que não condene João.
MANUEL:
O
caso é duro. Compreendo as circunstâncias em que João viveu, mas isso também
tem um limite. Afinal de contas, o mandamento existe e foi transgredido. Acho
que não posso salvá-lo.
A
COMPADECIDA: Dê-lhe então outra oportunidade.
MANUEL:
Como?
A
COMPADECIDA: Deixe João voltar.
MANUEL:
Você
se dá por satisfeito?
JOÃO
GRILO: Demais. Para mim é até melhor, porque daqui para lá
eu tomo cuidado para a hora de morrer e não passo nem pelo purgatório, para não
dar gosto ao cão.
A
COMPADECIDA: Então fica satisfeito?
JOÃO
GRILO: Eu fico. Quem deve estar danado é o filho de
chocadeira.
O Encourado,
furioso, volta-se para João, mas nesse momento, ou dá um grande grito e corre
para o inferno, ou deita-se no chão e rasteja até onde está a Virgem para que
ela lhe ponha o pé sobre a nuca (cf. Gênesis, 3, 15), saindo após.
Comentários
Postar um comentário